“Esta é mais uma tentativa de Putin de brincar com vidas humanas”, disse Zelensky na rede Telegram, referindo que “drones de ataque russos foram detetados” nos céus ucranianos.
No entanto, não declarou claramente a posição de Kiev sobre o cessar-fogo determinado por Moscovo.
“A defesa aérea e a aviação ucranianas já começaram a trabalhar para nos proteger. Os drones Shahed nos nossos céus revelam a verdadeira atitude de Putin em relação à Páscoa e à vida humana”, acrescentou o Presidente ucraniano.
Vladimir Putin ordenou às suas tropas que observem um cessar-fogo na Ucrânia na Páscoa Ortodoxa, a partir da tarde de hoje até domingo à noite, e instou Kiev a fazer o mesmo.
“Guiado por considerações humanitárias, o lado russo declara uma trégua de Páscoa”, afirmou o líder do Kremlin durante uma reunião transmitida pela televisão com o chefe das Forças Armadas, Valery Gerasimov.
Este cessar-fogo unilateral prolonga-se das 16:00 de hoje (hora de Lisboa) até às 22:00 de domingo.
Posteriormente, o chefe da diplomacia de Kiev disse que a Ucrânia espera “ações, não palavras”, referindo-se à iniciativa do líder russo.
“Sabemos que as suas palavras não são fiáveis e vamos analisar ações, não palavras”, escreveu Andrii Sybiga nas redes sociais.
Segundo o Presidente russo, a reação de Kiev à trégua da Páscoa demonstrará “a sinceridade, o seu desejo e a sua capacidade de cumprir os acordos e de participar nas conversações de paz destinadas a eliminar as causas profundas da crise ucraniana”.
“Esperamos que o lado ucraniano siga o nosso exemplo. Ao mesmo tempo, as nossas tropas devem estar preparadas para repelir possíveis violações da trégua e provocações do inimigo, bem como quaisquer ações agressivas da sua parte”, acrescentou.
A este respeito, Putin considerou que a Ucrânia violou mais de cem vezes o cessar-fogo energético de 30 dias que Moscovo declarou unilateralmente em 18 de março, ao qual a Ucrânia aderiu mais tarde através da mediação dos Estados Unidos.
As autoridades ucranianas acusaram por sua vez as forças russas de múltiplas violações da trégua, em particular nos sangrentos ataques nos últimos dias no centro e nordeste do país, que provocaram a morte de dezenas de civis, incluindo crianças.
Na sua declaração de hoje, Putin disse ainda que o lado russo esteve sempre disposto a participar em negociações de paz e saudou os esforços do Presidente norte-americano, Donald Trump, bem como do líder chinês, Xi Jinping, e dos países BRICS, que “apoiam uma solução pacífica e justa para a crise ucraniana”.
O anúncio de Putin, que deverá comparecer hoje à noite na vigília de Páscoa na Catedral de Cristo Salvador, em Moscovo, segue-se a declarações de Donald Trump na sexta-feira, sugerindo que, se não houvesse progressos nas negociações indiretas com Moscovo e Kiev numa “questão de dias”, Washington poderá abandonar o processo de paz na Ucrânia.
As tentativas de estabelecer uma trégua da Páscoa na Ucrânia já ocorreram duas vezes desde o início do conflito, em fevereiro de 2022.
Em abril de 2022, uma primeira iniciativa neste sentido, tomada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, não se concretizou devido à recusa da Rússia, alegando que um cessar-fogo daria ao Exército ucraniano a oportunidade de se reagrupar e rearmar.
No ano seguinte, em janeiro de 2023, o patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, Kirill, pediu a ambos os lados que interrompessem as hostilidades na Páscoa, e a Rússia declarou uma trégua de 36 horas, mas esta foi vista pela Ucrânia como “uma armadilha” e os combates continuaram.
Lusa