“Se em abstrato, algum membro do governo tiver rendimentos não declarados, claro que não se pode manter como membro do governo. É evidente, creio que isso é uma coisa clara e transparente. Estamos de acordo sobre esse ponto, vá lá, já é bom estarmos de acordo em mínimos”, afirmou António Costa.
O primeiro-ministro falava no debate sobre a moção de censura ao Governo apresentada pela Iniciativa Liberal e respondia ao presidente do Chega, André Ventura, sobre o arresto de contas conjuntas que a nova secretária de Estado da Agricultura, Carla Alves, tem com o marido e ex-autarca de Vinhais, noticiado hoje pelo Correio da Manhã.
“O que é que eu pude apurar? A senhora secretária de Estado diz-me que na conta dela não há nenhum rendimento não declarado. (…) não sabe se consta ou não consta em contas do marido. Tudo o que ganhou, declarou, é o que a senhora me diz”, frisou.
António Costa salientou que a atual secretária de Estado, uma vez já era diretora regional da agricultura, "já estava obrigada a proceder às declarações de rendimentos”.
“E, portanto, na declaração de rendimentos dela já constará quais são os rendimentos que tem e que não tem, qual é o património que tem ou não tem. O que ela me disse foi o que lhe posso dizer. Eu não tenho obviamente acesso às contas bancárias da senhora, só posso fazer fé naquilo que a senhora secretária de Estado me disse. Se a secretária de Estado diz a verdade, não tenho nada a apontar”, insistiu.
Momentos antes, André Ventura, líder do Chega, afirmou que “a PJ [Polícia Judiciária] descobriu a multiplicação de dinheiro no banco depositado em nome de Carla Alves"."Aqui a conversa é fácil: é que na conta da secretária de Estado do seu governo, entrou em três anos dinheiro que não corresponde à sua declaração”, argumentou Ventura.
“E eu pergunto se é isso que quer passar para o país, a imagem de que é normal um governante, nas suas contas, ter dinheiro que não declarou”, atirou.
O Correio da Manhã noticiou hoje o arresto de contas conjuntas que a nova secretária de Estado da Agricultura, Carla Alves, tem com o marido e ex-autarca de Vinhais, Américo Pereira, informação divulgada menos de 24 horas depois da tomada de posse da governante.
O Ministério Público acusou de vários crimes e mandou arrestar bens do advogado e antigo autarca socialista, que saiu da liderança do município em 2017, num processo de mais de 4,7 milhões de euros que tem mais três arguidos.
Em causa estão vários negócios celebrados entre 2006 e 2015, que envolvem também uma sociedade, um empresário e o reitor do antigo seminário deste concelho do distrito de Bragança.
De acordo com a investigação, foram detetadas nas contas do casal ao longo de vários anos divergências entre os valores depositados e declarados.
Lusa