"Creio que Putin e o regime dele terão subestimado a nossa capacidade de nos mantermos unidos e com uma postura de grande firmeza em relação ao que se passou na Ucrânia”, defendeu o governante.
Em declarações à agência Lusa, depois de ter participado por videoconferência na reunião que juntou hoje os ministros da Defesa da União Europeia, João Gomes Cravinho disse ter existido nesta reunião “uma grande convergência”, bem como “um reconhecimento generalizado de que essa mesma convergência é fundamental como um trunfo” da posição da União Europeia.
“Nós tivemos relatos por parte de vários responsáveis da Comissão Europeia sobre o impacto muito significativo das sanções [à Rússia]. Tal como tinha sido previamente anunciado, este pacote de sanções é o mais poderoso alguma vez utilizado e evidentemente o impacto sobre a Rússia é muito grande”, acrescentou.
Segundo Gomes Cravinho, “há também uma coordenação feita pela União Europeia dos diferentes donativos de material bélico dos países estados-membros da UE” para as autoridades ucranianas, “nesta situação de elevadíssima tensão, não terem de lidar com vinte e tal países diferentes”, mas apenas com “um centro de coordenação que é da UE”.
Questionado sobre como será agilizada a chegada de material até à Ucrânia, Cravinho disse apenas que “a coordenação vai ser feita em Bruxelas pelos serviços militares da UE”.
“Aspetos mais logísticos e operacionais, obviamente que devem ser tratados com a discrição necessária e portanto não é conveniente agora entrar em pormenores sobre essa matéria”, acrescentou.
O governante português disse ainda que nesta reunião existiu um consenso de que o documento europeu de Defesa denominado ‘Bússola Estratégica’, que “está para ser aprovado em março”, deve ter “os ajustamentos necessários para refletir a nova realidade geopolítica”.
“Creio que todos demonstraram grande consciência de que o mundo mudou no dia 24 de fevereiro, o ambiente estratégico no qual vivemos mudou muito significativamente”, sustentou.
De acordo com o governante, a UE estará também atenta à “capacidade e a disponibilidade para a perturbação que a Rússia tem demonstrado nas missões da UE em vários sítios”.
“Nomeadamente nos Balcãs e em África e, portanto, estaremos atentos a essas eventuais tentativas de perturbação que a Rússia, que estava a desenvolver uma operação no fundo de cerco da Europa através da sua entrada no Sahel e na África do Norte, através da Líbia, mas estamos muito atentos a essa realidade”, disse.
Para Gomes Cravinho, a UE precisa também de repensar o seu relacionamento com a Rússia “a prazo”.
O titular da Defesa considerou que o regime Putin, "não só representa um desafio, como um ataque frontal à arquitetura de segurança na Europa. "Mas, depois de Putin, a Rússia continuará e interessa-nos enquanto UE desenvolver um entendimento e um compromisso mútuo em relação à segurança de todos com a Rússia e portanto devemos começar a pensar já naquilo que queremos para esse momento, que obviamente está no futuro”, sublinhou.
O ministro disse que o diálogo entre a UE e a NATO “tem sido muito intenso”.
“O que se verifica é que ambas as organizações, UE e NATO, estão a ter um papel absolutamente fundamental e complementar na resposta à Rússia. Nenhuma delas poderia sozinha traduzir o impacto e o peso da resposta europeia e ocidental sem a outra: a UE com toda a força das sanções e a NATO com as garantias militares que oferece”, explicou.
No domingo, os ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 deram aval a um pacote de 450 milhões de euros para financiar o fornecimento de armas letais ao exército ucraniano, que luta contra a invasão russa, numa decisão que marca uma viragem histórica na UE.
O chefe da diplomacia europeia assegurou que a mobilização e entrega de armamento à Ucrânia, hoje debatida pelos ministros da Defesa da UE, está bem encaminhada, mas escusou-se a adiantar detalhes, pois “a Rússia gostaria muito” de os conhecer.
A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já mataram mais de 350 civis, incluindo crianças, segundo Kiev. A ONU deu conta de mais de 100 mil deslocados e quase 500 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia.
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a "operação militar especial" na Ucrânia visa desmilitarizar o país vizinho e que era a única maneira de a Rússia se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções para isolar ainda mais Moscovo.