A cerimónia oficial de tomada de posse terá lugar ao meio-dia (hora local, 10:00 em Lisboa) no Salão de Santo André no Kremlin (sede da presidência), que foi construído em meados do século XIX como a sala do trono do czar Nicolau I, segundo a agência noticiosa espanhola EFE.
A controversa reforma constitucional de 2020 permitiu a Putin, de 71 anos, eliminar o obstáculo legal que o impedia de permanecer no Kremlin até 2030.
No poder desde 2000, Putin venceu as eleições presidenciais de 17 de março passado com mais de 87% dos votos, um resultado sem precedentes e que mereceu críticas no Ocidente.
Vários Governos ocidentais alinharam-se nas críticas à legitimidade democrática das eleições presidenciais na Rússia e não felicitaram Putin, como foi o caso dos Estados Unidos.
Um mês antes do escrutínio, surgiu a notícia da morte na prisão do líder da oposição russa Alexei Navalny, cujas circunstâncias ainda estão pouco claras.
Mas, no atual contexto, o principal problema da liderança russa permanece por resolver: a guerra em curso na Ucrânia e o alcance de uma vitória.
Desde a situação da economia até à repartição dos recursos do Estado estão dependentes do desfecho do conflito armado, iniciado em fevereiro de 2022.
A vitória na campanha militar na Ucrânia parece longe de se tornar realidade, apesar de a ofensiva russa de outubro ter permitido a Moscovo conquistar diversos bastiões no Donbass (leste da Ucrânia) e na região de Kharkiv, no nordeste.
As perspetivas de negociações de paz com Kiev também parecem de momento impossíveis.
Após o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter rejeitado, e por decreto, sentar-se à mesma mesa de negociações com Putin, Moscovo decidiu recentemente incluir o Presidente da Ucrânia na lista de procurados do Ministério do Interior, por infração ao Código Penal.
Moscovo também tem repetido nos últimos meses que a partir de 20 de maio, quando termina o atual mandato de Zelensky, o líder ucraniano perderá toda a legitimidade.
A melhor demonstração de que a reeleição de Putin apenas exacerbou as tensões com o Ocidente ficou expressa na ordem do Presidente russo para que as Forças Armadas realizem “em breve” manobras com armas nucleares táticas.
Caso se concretizem, estes exercícios – com o envolvimento da Força Aérea e Marinha –, poderão ocorrer em território ucraniano, pelo facto de o Distrito militar sul incluir as quatro regiões ucranianas ocupadas (Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia).
O Kremlin justificou estas manobras como uma resposta às ameaçadoras declarações, entre outras, do Presidente francês Emmanuel Macron, que voltou a insistir, em declarações à revista conservadora The Economist, que não exclui o envio de tropas da NATO para território ucraniano.
“Eles referem-se à disposição e inclusive intenção de enviar contingente militares para a Ucrânia, quer dizer, pôr soldados da NATO frente a militares russos. Essa é uma nova espiral na escalada da tensão. Não tem precedentes e exige atenção especial e medidas especiais”, indicou Dmitri Peskov, o porta-voz presidencial, numa conferência de imprensa.
A isto junta-se o facto de a Alemanha ter chamado o seu embaixador em Moscovo para consultas e a convocação dos embaixadores francês e britânico pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros russo. Em relação a Londres, a convocação surgiu na sequência de declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, David Cameron, sobre o direito de Kiev atacar alvos em território russo com armamento ocidental.
A histórica vitória eleitoral de Putin foi ofuscada poucos dias depois pelo maior atentado terrorista em território russo desde o massacre de Beslan, Ossétia do Norte, em 2004.
Quatro homens armados atacaram com armas automáticas e explosivos o “Crocus City Hall”, uma sala de concertos nos arredores de Moscovo, com um balanço de 145 mortos.
Este atentado fragilizou Putin – que há quase 25 anos subiu ao poder tendo como lema o combate contra o terrorismo islamista no Cáucaso –, e as forças de segurança, que revelaram-se incapazes de proteger um dos locais de lazer mais populares da capital russa.
Na sequência do ataque, Putin tentou reforçar os argumentos de que a atual política externa russa de amizade com o mundo muçulmano (Irão, Arábia Saudita, Afeganistão ou palestinianos) tornaria improvável este género de ações.
Nesse sentido, e sem apresentar provas concludentes, responsabilizou diretamente a Ucrânia e os seus patrocinadores ocidentais pelo ataque, apesar de os Estados Unidos terem indicado que tinham avisado o Kremlin para um possível ataque ‘jihadista’, segundo assinalou a agência EFE.
A nível interno, o ataque teve repercussões com a dissidência a acusar o Kremlin de perseguir os alvos errados, ao centrar a sua máquina repressiva na perseguição de opositores, pacifistas ou minorias sexuais no território do país.
Lusa