"Seria um passo histórico acertarmos o nosso relógio político com Lisboa, acabarmos com o contencioso que o centralismo mantém como marca colonial", afirmou o deputado social-democrata Miguel Sousa, durante a cerimónia comemorativa do Dia da Região Autónoma da Madeira e das Comunidades Madeirenses, que decorreu em Machico, na zona leste da ilha.
O deputado do PSD, partido com maioria absoluta no parlamento regional, disse que é "consensual" que Marcelo Rebelo de Sousa seja "patrono de um entendimento nacional" entre o Estado e as regiões autónomas da Madeira e dos Açores, para "regularização e acerto" das imperfeições que persistem no funcionamento da autonomia.
"A presidência, por todos admirada, dos afetos daria lugar a mais um ato patriótico de entendimento e aproximação entre continentais e ilhéus", disse Miguel Sousa, num discurso em que vincou a importância da autonomia como "base do sucesso coletivo" dos madeirenses, desde sempre liderado pelo PSD.
A oposição regional com assento parlamentar – CDS-PP, JPP, PS, PCP, BE, PTP e um deputado independente – foi, no entanto, unânime em apontar diversas falhas e fragilidades na autonomia, a começar pelo facto de o Governo da região ser conduzido ininterruptamente desde 1976 pelo PSD.
Rui Barreto, deputado e líder do CDS-PP, o maior partido da oposição (sete deputados num total de 47), destacou que a Madeira vive um "impasse", que definiu como um "paradoxo da autonomia", marcado pelo crescimento da economia e em simultâneo pelo aumento do risco de pobreza.
O deputado centrista disse que a região precisa "urgentemente de uma mudança", garantindo que se o CDS-PP subir ao "palco da governação" após as eleições de 22 de setembro "nada ficará igual".
O deputado Carlos Costa, do JPP, questionou a eficácia da autonomia na resolução de alguns problemas específicos, como emprego para os jovens, ao passo que Vítor Freitas, do PS, criticou a relação conflituosa entre o Governo da Madeira e o Governo da República.
O socialista realçou que as "lógicas do PSD usadas no século XX não são válidas no século XXI", situação que, segundo disse, vai ser comprovada nas eleições regionais de 22 de setembro.
O deputado independente Gil Canha alertou para os grupos económicos que "capturaram" os setores chave da economia madeirense e direcionou críticas também à Justiça por ter proferido sentenças que "absolveram ou foram brandas" com vários suspeitos de corrupção.
Esta posição foi apoiada por Raquel Coelho, do PTP, acrescentado que a autonomia está "longe de ser um projeto acabado", pelo que apelou aos madeirenses para que "voltem a acreditar" na alternativa proposta pelo seu partido.
Roberto Almada, do Bloco de Esquerda, lamentou acima de tudo o "subaproveitamento dos poderes autonómicos", nomeadamente ao nível fiscal, acusando a maioria social-democrata de muito se queixar dos "inimigos externos" e pouco uso fazer dos poderes a favor do povo.
A deputada comunista Sílvia Vasconcelos fez um discurso no mesmo sentido, lembrando que alguns direitos adquiridos noutras partes do país não estão a ser aplicados na Madeira, mas advertiu que "autonomia não é sinónimo de separatismo".
C/Lusa