A Assembleia Legislativa da Madeira discutiu hoje um projeto de resolução da autoria do PS recomendando ao Governo Regional a realização de um inquérito independente para apurar o que se passou no decorrer dos incêndios em agosto.
"Nesta terra a culpa costuma morrer solteira", disse o líder parlamentar do PS/M, sublinhando que "as pessoas têm de assumir as suas responsabilidades, seja o presidente do Governo Regional, seja o da Proteção Civil".
Jaime Leandro reforçou que "aqui ninguém se demite", opinando que os responsáveis evidenciaram que "não aprenderem nada com o 20 de fevereiro e em agosto de 2016".
Os fogos que fustigaram a Madeira na segunda semana de agosto afetaram sobretudo o concelho do Funchal, provocaram três mortos, centenas de desalojados, danificaram cerca de 300 imóveis e provocaram danos materiais avaliados pelo executivo madeirense em 157 milhões de euros.
A proposta da bancada socialista no parlamento regional defende a realização de "um inquérito independente com recurso a uma entidade externa, no sentido de apurar o que realmente se passou durante os incêndios e que se identifiquem, delimitem e apurem as áreas de responsabilização".
No articulado, os socialistas consideram ser necessário apurar de "forma clara e imparcial o que de mal realmente aconteceu para que o desfecho tenha sido uma autêntica catástrofe".
"Como é que se passa de um incêndio dito controlado para um incêndio completamente descontrolado? Foram acionados os meios necessários na altura certa? Os meios existentes na Madeira são os suficientes? O pedido de ajuda de meios do exterior foi efetuado atempadamente e em quantidade suficiente?", questiona o PS/M.
Os socialistas também querem saber se "a utilização de meios aéreos teria contribuído para que o desfecho" dos incêndios.
O deputado do CDS-PP Mário Pereira disse ser necessário "haver a melhor coordenação possível entre os meios concelhios e regionais" e afirmou "estranhar haver terrenos do Governo e da Câmara do Funchal por limpar há de dez anos".
"Nunca se viu tanta desorganização", considerou o deputado independente (ex-PND), Gil Canha, apontando que "não de deve atacar só o Governo, porque os autarcas também falharam", sendo secundado pelo parlamentar do PTP, José Manuel Coelho, que pediu a demissão do presidente da Câmara do Funchal, Paulo Cafôfo.
O eleito do BE Roberto Almada criticou, também, a atuação dos responsáveis do executivo madeirense e da autarquia do Funchal, mencionando que as bocas de incêndio não tinham água, mas sustentou que "mais importante que assacar responsabilidades é prevenir o futuro", tendo Sílvia Vasconcelos (PCP) referido que "o inquérito dissiparia todas as dúvidas e deixaria a população mais descansada".
Mário Pereira (CDS-PP) defendeu, por sua vez, ser necessário aferir se "a atuação foi ou não a mais correta", e Rafael Nunes (JPP) afirmou que a situação "é merecedora desta reflexão".
Vânia Jesus da bancada do PSD destacou que a avaliação da situação está a ser feita pelo Governo Regional e os relatórios estão a ser efetuados, estando prevista a audição de 17 entidades para "avaliar o que aconteceu e a evolução do que têm sido estas tragédias", mas rejeitou que se torne "numa caça às bruxas", porque a Madeira "pode mitigar, mas nunca fazer desaparecer" este tipo de situações.
C/Lusa