“Portugal é um país que pode fazer pontes, faz pontes com a América Latina, faz pontes com África”, defendeu à Lusa, em Brasília, João Gomes Cravinho, após a reunião no Palácio do Itamaraty com o seu homólogo brasileiro, Mauro Vieira.
O diplomata português frisou ser uma honra, responsabilidade e desafio estar presente no “mais importante enquadramento multilateral internacional”, acrescentando que a “presença de Portugal no mundo será muito mais visível” e com um capacidade acrescida de “influenciar os grandes temas internacionais”.
As prioridades da presidência brasileira para o seu mandato à frente do G20 são o combate à fome, à pobreza e à desigualdade, o desenvolvimento sustentável e a reforma da governança global, nomeadamente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, algo que tem vindo a ser defendido por Lula da Silva desde que tomou posse como Presidente do Brasil, denunciando o défice de representatividade e legitimidade das principais organizações internacionais.
De acordo com o chefe da diplomacia portuguesa, estes são temas nos quais Portugal tem credenciais.
No caso do combate à fome, à pobreza e à desigualdade, Portugal, defendeu o ministro português, lidera o processo da Europa social.
No caso do desenvolvimento sustentável, considerou: “Portugal é um país líder na Europa, é um país líder internacionalmente, é um país para quem as energias renováveis constituem uma parte muito importante na nossa economia e também na nossa projeção internacional”.
Quanto à reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, João Gomes Cravinho sublinhou a necessidade de alargamento do Conselho de Segurança das Nações Unidas, já que, segundo o ministro português, “a arquitetura de 1945 não corresponde às realidades contemporâneas”.
“Defendemos há muito tempo a entrada do Brasil, a entrada da Índia e de mais dois países africanos no Conselho de Segurança para refletir aquilo que são as dinâmicas atuais”, frisou, detalhando ainda que Portugal é a favor da criação de mecanismos contra os atuais modelos de vetos, para que o Conselho de Segurança não fique paralisado “da forma como tem estado”.
O ministro português afirmou ter noção de que tais alterações não vão acontecer durante a presidência brasileira do G20, mas pode acontecer “a instituição de uma dinâmica que leve finalmente a essa reforma almejada”.
Portugal estará presente, ao longo do mandato do Brasil, em mais de 100 reuniões dos grupos de trabalho, em nível técnico e ministerial, em cinco regiões brasileiras, culminando com a Cimeira de chefes de Estado e de Governo, que será realizada no Rio de Janeiro, em 18 e 19 de novembro de 2024.
O Brasil, que exerce a presidência do G20 desde o primeiro dia de dezembro, convidou Portugal, Angola, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Nigéria, Noruega e Singapura para observadores da organização.
Na segunda-feira, em Brasília, começaram as reuniões do grupo Sherpas, composto por emissários dos líderes do G20, e dos observadores, e que têm como missão supervisionar as negociações, discutir os pontos que formam a agenda da Cimeira de novembro de 2024, e de coordenar os trabalhos do grupo que reúne as maiores economias do mundo.
Entre hoje e sexta-feira, também no palácio do Itamaraty, a reunião de finanças contará com a presença de vice-ministros das Finanças e vice-presidentes de Bancos Centrais do G20.
O diretor-geral de Política Externa do Ministério dos Negócios Estrangeiros e sherpa para o G20, o Embaixador Rui Vinhas, tem marcado presença nas várias reuniões que decorreram em Brasília esta semana.
Os membros do G20 são as 19 principais economias do mundo: Estados Unidos da América, China, Alemanha, Rússia, Reino Unido, França, Japão, Itália, índia, Brasil, África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, Coreia do Sul, Indonésia, México, Turquia, mais a União Europeia e a União Africana.
Cravinho seguiu para São Paulo para participar na cerimónia de investidura do professor Álvaro Vasconcelos como novo titular da Cátedra José Bonifácio da Universidade de São Paulo.
João Gomes Cravinho tem também agendadas visitas e encontros com várias entidades portuguesas e brasileiras e uma reunião, na sexta-feira, com o Governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, bem como um encontro com o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), em que participarão empresários portugueses e brasileiros.
Lusa