Antigo operário da Lisnave, Américo dos Reis Duarte foi o primeiro deputado eleito pela União Democrática Popular (UDP), um dos partidos que, em 1999, esteve na origem da constituição do Bloco de Esquerda (com o PSR de Francisco Louçã e o movimento Política XXI de Miguel Portas).
Nascido em 29 de outubro de 1942, em Lisboa, Américo Duarte era mecânico de bordo da Lisnave quando foi eleito para a Assembleia Constituinte. O seu estilo truculento e a linguagem popular davam nas vistas, embora Mário Tomé (ou o major Tomé, como era conhecido) tenha sido o deputado da UDP que alcançou maior notoriedade.
Segundo uma biografia feita pelo jornal online Observador em 2015, por ocasião dos 40 anos da Constituição, Américo Duarte foi o primeiro deputado a falar nas sessões da Constituinte, em 3 de junho de 1975, para desafiar um dos adversários políticos, o social-democrata Mota Amaral, quem rotulou então de "destacado fascista".
A Voz do Povo, o jornal oficial da UDP, referia-se a Américo Duarte como “um elemento revolucionário lançado no seio do inimigo” e como alguém que durante alguns meses seria forçado a lidar com a “canalha burguesa”, segundo o mesmo texto publicado pelo diário Observador.
A retórica violenta, não raras vezes com recurso a palavrões, era uma marca do antigo deputado da UDP, ainda comentada nos corredores do parlamento quando a democracia já estava consolidada e Mário Tomé, com outro estilo, era a única voz da UDP no Palácio de S. Bento.
Américo Duarte só entrou para a Constituinte porque o cabeça de lista pela UDP, João Pulido Valente, renunciou ao mandato antes de tomar posse. Em declarações ao Público, o deputado chegou mesmo a confessar: “Nem sabia que era o segundo da lista. Não sabia o que era uma Assembleia Constituinte. Acredita nisto?”
Viria a ser substituído após o 25 de novembro de 1975 pelo ator e músico Afonso Dias, tendo Américo Duarte regressado à Lisnave.
De acordo com o portal "Convergência", ligado à UDP, Américo Duarte "começou a trabalhar aos 11 anos, passou pela Sorefame, como serralheiro, e pela Guerra Colonial, em Angola, contra a sua vontade".
"Participou nas lutas e greves operárias em pleno regime fascista. Depois do 25 de abril, eleito para a Comissão de Trabalhadores do estaleiro naval da Lisnave, foi um dos organizadores da grande manifestação de 12 de novembro de 1974", lê-se na nota biográfica.