Luís Montenegro fez esta revelação durante um discurso na sede nacional da Polícia Judiciária (PJ), em Lisboa, no âmbito da cerimónia do 79.º aniversário daquele órgão de polícia criminal, no qual salientou que o seu Governo assumiu como uma das suas prioridades o combate à cibercriminalidade.
O chefe do executivo salientou que a cibercriminalidade “é objetivamente uma das matérias que mais coloca em causa” a segurança e, muitas vezes, “a preservação da própria identidade”.
“Estava-me a lembrar que eu, desde que sou primeiro-ministro, já apresentei umas três ou quatro queixas – vou partilhar isto hoje convosco – porque, de repente, enviavam-me, amigos, intervenções minhas que não eram minhas, mas era a minha cara que aparecia e a minha voz”, afirmou, referindo-se a uma técnica chamada ‘deepfake’ e salientando que muitas vezes ficou ele próprio a duvidar se teria dito alguma coisa de que não se lembrava.
“Uma das últimas que me enviaram – não sei em que pé esta essa investigação, também não perguntei – era o primeiro-ministro de Portugal, que está aqui a falar-vos, mais ou menos numa circunstância parecida, a vender um produto financeiro”, acrescentou.
Luís Montenegro referiu que “o que vale é que estes instrumentos de inteligência artificial ainda não são suficientemente robustos e ainda têm, no caso de quem fala português, uma tendência para usar o português do Brasil”.
“Portanto, percebe-se facilmente que não podia ser eu a dizer algumas coisas. Mas a dimensão do desafio que hoje todos nós enfrentamos – e quem está no terreno a investigar a criminalidade não pode deixar de ter em conta – é brutal”, frisou, antes de acrescentar que “adulterar a verdade com um impacto destes é uma coisa avassaladora”.
“Já não estou a falar de todos os outros crimes possíveis no ciberespaço – e que são muitos, de natureza patrimonial – mas este é mesmo de natureza identitária e qualquer um de nós pode estar sujeito a ser responsabilizado por tudo e qualquer coisa que alguém se lembre de promover”, referiu.
Neste discurso, o chefe do executivo frisou que o seu Governo está “altamente comprometido” em combater todo o tipo de criminalidade, mas assumiu como prioridade, além do cibercrime, o combate à corrupção e à criminalidade que diz respeito ao tráfico de seres humanos e aos direitos das pessoas.
Sobre este último tipo de criminalidade, Montenegro frisou que o tráfico de seres humanos é precisamente “o único ponto de contacto entre uma imigração que não tem regulação e os níveis de segurança”, voltando a rejeitar que haja qualquer correlação entre a imigração e o aumento da criminalidade.
“Não que os imigrantes não sejam como aos nossos nacionais: todos cometem crimes. Nós sabemos que as nossas prisões têm cerca de 15% a 17% de reclusos que são originários do estrangeiro. Estaremos mais ou menos, em termos de correlação, a acompanhar aquilo que é o desenho social que hoje temos em Portugal”, disse.
No entanto, no que se refere ao combate ao tráfico de seres humanos, o primeiro-ministro frisou que, “quando não há capacidade de controlar as entradas de imigração, há um aproveitamento de redes que estão estabelecidas”.
“E esse combate é mesmo um combate que nós temos de vencer para erradicar esse crime e valorizar aquilo de que verdadeiramente o país precisa, que é de mão-de-obra qualificada, pessoas que venham para Portugal ajudar o país a crescer e que venham estabelecer-se. E eu não tenho nenhum problema em dizer isto desta maneira: que venham para ser novos portugueses”, disse.
Lusa