O presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, afirmou hoje que, sem o apoio financeiro do Estado, a operação marítima de ‘ferry’ para ligar a região ao território continental será irrealizável.
"O transporte marítimo deve ser considerado a nível de ajudas dos Estados", disse o governante na Assembleia Legislativa da Madeira (ALM), durante o debate mensal, subordinado ao tema "promoção turística". O social-democrata declarou ser "fundamental considerar esta operação com apoio, senão não se vai realizar".
A questão foi colocada pelo líder parlamentar do PS, Jaime Leandro, e Miguel Albuquerque referiu que os sete operadores consultados não se mostraram interessados na realização da operação, apesar das condições dadas.
Está a ser avaliado se a operação deve ter uma realização anual ou sazonal, visto que os cerca de 12 mil passageiros que utilizaram a linha viajaram sobretudo nos meses de verão.
A linha por ferry entre a Madeira e o continente terminou em 2011, depois de o armador espanhol Naviera Armas ter abandonado a rota devido a alegados prejuízos anuais da ordem dos seis milhões de euros.
Já em janeiro, na apresentação do relatório da auscultação a transportadoras, o secretário regional da Economia, Eduardo Jesus, afirmou que o restabelecimento da ligação só é viável com indemnizações compensatórias ao armador pelo Estado.
Questionado pelo deputado Roberto Almada (BE) sobre a segurança nos percursos pedonais da ilha, onde têm ocorrido vários acidentes mortais, o líder do executivo insular indicou que estas situações acontecem sobretudo em "levadas consideradas não recomendadas".
Miguel Albuquerque anunciou no debate que existe "um conjunto de atratividades turísticas que vão ser pagas" na Madeira, exemplificando com o caso dos viveiros de trutas no Ribeiro Frio, concelho de Santana.
Este espaço regista uma média de 300 mil visitantes/ano, pelo que o pagamento de um euro por entrada, por exemplo, permitiria arrecadar uma verba para a conservação daquela zona na costa norte, perspetivou.
Miguel Albuquerque declarou ainda, na sequência de uma intervenção do CDS, que o executivo está a preparar um novo Plano Estratégico do Turismo, visando a sua adaptação às novas realidades e à evolução do setor.
Sobre o facto de a companhia aérea Everjet ter abandonado a rota da Madeira, o governante explicou que a decisão da empresa foi justificada por "não ter tido uma adesão relativamente às expectativas de crescimento e procura" e o "número de bilhetes ter sido manifestamente insuficiente".
Os deputados Ricardo Lume (PCP), Roberto Almada (BE) e Quintino Costa (PTP) salientaram que o crescimento do turismo na Madeira não tem reflexos na situação dos trabalhadores, registando-se uma maior "precariedade laboral" no setor e "um regresso das praças de jorna".
Os deputados criticaram a postura da Associação Comercial e Industrial do Funchal de estar a "bloquear o contrato coletivo, promovendo o trabalho escravo".
Miguel Albuquerque respondeu que o executivo insular interveio na questão do contrato coletivo do trabalho da hotelaria, porque "entendeu que alguns direitos dos trabalhadores têm de ser salvaguardados", mas considerou existir "um conjunto de itens que não fazem sentido, pelo que os sindicatos têm de se adaptar".
Na sua opinião, as negociações "devem ser retomadas".
O deputado independente (ex-PND) Gil Canha censurou a "promoção turística paralela" existente, exemplificando com a "anarquia da ocupação da via pública" e o Mercado dos Lavradores, no Funchal, que, no seu entender, se tornou "numa autêntica morganheira, pior que um bazar de Istambul".
Por seu turno, o secretário da Economia, Turismo e Cultura, Eduardo Jesus, criticou a "agenda paralela" desenvolvida pela Câmara do Funchal na área da promoção turística, revelando uma "desorientação profunda", sem "qualquer coordenação ou contacto" com as entidades regionais.