Marcelo Rebelo de Sousa falava na sessão solene de abertura do ano académico de 2022/2023 do Instituto da Defesa Nacional (IDN).
"O Irão vive um processo de revolta anti-teocrática assente na defesa dos direitos das minorias étnicas com origem fora das grandes cidades, com papel fundamental das mulheres e dos jovens, que precisa de atenção redobrada e bem informada", afirmou.
Quanto à China, o chefe de Estado assinalou que "desde 1990 que a economia chinesa não crescia abaixo da média asiática", que "a dívida pública aumentou 40 pontos percentuais numa década, e a natalidade caiu para metade".
"Se as disrupções logísticas e o arrefecimento económico foram patentes e transversais durante a pandemia, a política da covid zero e as medianas taxas de vacinação travaram a recuperação chinesa, cujo crescimento neste ano é três vezes inferior à média dos últimos 30 anos", acrescentou.
Segundo o Presidente da República, a República Popular da China tem uma "parceria estratégia com a Federação Russa com traços mais do que musculados semelhantes", mas não se trata de "uma aliança entre iguais", porque a China é "uma potência global emergente" e a Rússia "uma potência regional a querer ressurgir como global".
"A postura da Rússia na Ucrânia é incómoda para a China, protelando ainda mais a sua recuperação económica, e é nomeadamente no aproveitamento destas dissonâncias que deve estar o foco euro-americano, não se satisfazendo com o simplismo geoestratégico de tratar como iguais pesos e situações que são bastante diversos", defendeu.
Sobre a invasão russa da Ucrânia, observou que, "até ao momento, o ensaio, se disso se tratou, de recuperar poder global onde havia poder regional não tem beneficiado de perceções obviamente certeiras nem de demonstrações estratégicas, políticas e militares suficientemente convincentes".
Na sua intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa falou de passagem sobre o Brasil – onde no domingo Lula da Silva foi eleito Presidente derrotando o chefe de Estado em exercício, Jair Bolsonaro – que apontou como uma de "várias potências regionais em processo de transição".
No seu entender, o Brasil "acompanha as tensões populistas à esquerda e à direita que vão adiando o futuro da América Latina, mas pode ter mais uma oportunidade geoestratégica, se conseguir preservar a coesão interna, se afirmar um duradouro poder económico e uma prospetiva visão internacional".
Na sua análise da conjuntura global, o Presidente da República mencionou também a Nigéria, fornecedor de gás a Portugal, declarando: "Parece ter encontrado, para já, uma estabilidade mínima que a projete no debate energético e securitário internacional. Assim essa estabilidade resista às pulsões externas motivadas por cobiças ou interesses terceiros com eco interno".
Ainda relativamente à guerra na Ucrânia iniciada em 24 de fevereiro, Marcelo Rebelo de Sousa sustentou que "a centralidade da NATO na segurança europeia acabou por ver reconhecida uma forma extra, com a materialização da ameaça militar russa, com as recentes adesões da Suécia e da Finlândia em quase concretização, e com a coesão institucional renovada nos últimos anos".
O Presidente da República manifestou a expectativa de que "a União Europeia se mantenha unida, seja lúcida, preserve o elo essencial ao mais poderoso aliado transatlântico, saiba adaptar-se às novas realidades", sem esquecer o resto do mundo.