De ‘kippah’ na cabeça, os dois chefes de Estado ouviram explicações sobre a história desta sinagoga, no centro de Amesterdão, conhecida por “Esnoga”, construída pela comunidade judaica sefardita e inaugurada em 1675.
Na altura, era uma das maiores sinagogas do mundo. O interior mantém-se preservado, com os mesmos bancos do século XVII, o piso de pinho, e continua a funcionar sem eletricidade, iluminada por velas.
Estiveram também nesta visita à Sinagoga Portuguesa de Amesterdão, que não constava do seu programa de Marcelo Rebelo de Sousa divulgado à comunicação social, o ministro da Economia, Pedro Reis, e os deputados que o acompanham nos Países Baixos.
Na segunda-feira, ao discursar num encontro com emigrantes portugueses e lusodescendentes, em Amesterdão, o Presidente da República falou dos laços históricos entre os dois países e comentou “o que os Países Baixos beneficiaram quando foram expulsos os judeus” de Portugal – por ordem de D. Manuel, em 1496.
“E aqui estabeleceram uma comunidade da qual partiram e arrancaram os fundadores de comunidades nas Américas – América do Norte, América do Centro e América do Sul – e noutros pontos da Europa”, acrescentou.
O antigo Presidente da República Mário Soares, durante a sua visita de Estado aos Países Baixos, em outubro de 1989, também foi à Sinagoga Portuguesa e assinalou as “ligações existentes, ao longo dos séculos, entre Portugal e os judeus de Amesterdão, que conservaram os laços afetivos e culturais com Portugal”.
Recordando a expulsão e perseguição dos judeus em Portugal, Soares afirmou, na altura: “Foi significativamente em Amesterdão que, ao abater-se sobre Portugal a sombra devastadora da intolerância religiosa — coincidindo, aliás, com o centralismo e a decadência das liberdades na península —, se refugiaram tantos judeus portugueses, alguns dos melhores espíritos da época, contribuindo aqui, pela sua atividade financeira ou na produção literária e filosófica, para o esplendor do que viria a chamar-se o ‘século de ouro holandês'”.
Entre os “muitos judeus portugueses” que, “fugidos à intolerância religiosa da Inquisição, vieram para a Holanda, onde alguns deixaram a marca do seu génio mercantil e outros descendência ilustre no campo do pensamento”, Soares destacou ” o caso do grande Espinosa”.
Por sua vez, o antigo Presidente Jorge Sampaio, durante a visita oficial que fez aos Países Baixos, em outubro de 1997, visitou o monumento a Espinosa, na cidade onde o filósofo viveu e morreu, Haia, e prestou homenagem, em nome de Portugal, ao “descendente ilustre de portugueses judeus”.
“Num tempo em que tudo parece começar e acabar no lucro e na satisfação dos interesses mais egoístas e imediatos, é bom termos presente uma vida dedicada ao saber e ao aperfeiçoamento dos homens e da sociedade humana, no sentido da justiça e do progresso”, disse Sampaio.