“Eu verifico que há tendência para esquecer quem foi Mário Soares. Esquecer, ou ignorar, ou não saber, porque não se viveu naquela época. E, portanto, penso que era importante fazer um trabalho mais aprofundado de divulgação da sua vida, da sua vida política, da sua carreira política, sobretudo”, considerou Joaquim Vieira, em entrevista à agência Lusa.
O jornalista e ensaísta é autor de uma biografia de Mário Soares, agora atualizada com novos factos do final da vida do ex-Presidente da República, editada pela Leya – Dom Quixote, já nas livrarias por ocasião do 100.º aniversário do seu nascimento, a 07 de dezembro.
Interrogado sobre de que forma é que se deve explicar, nomeadamente às gerações mais novas, o papel de Mário Soares na história do país, Joaquim Vieira começou por referir que vê nas redes sociais “pessoas a reagir de forma muito negativa à figura” do antigo chefe de Estado “com muitas acusações que são falsas, não comprovadas”.
“Eu achava importante que houvesse um esclarecimento, sobretudo para aqueles que não viveram este tempo em que ele esteve no poder, um esclarecimento das pessoas sobre, de facto, quais foram os contributos de Mário Soares para a nossa história. Porque eu acho que há tendência para isso estar a ficar um bocado esquecido”, lamentou.
Na opinião do jornalista, esta divulgação pode ser feita “através do debate, da discussão” e “eventualmente através da escola”.
O ensaísta lamentou ainda que existam tantos “rumores, ‘fake news’ e distorções” nas redes sociais à volta da figura do histórico líder socialista.
“Não estou aqui a glorificá-lo ou a endeusá-lo, mas é saber, de facto, quem foi Mário Soares, conhecê-lo. As pessoas têm de o conhecer”, defendeu.
Joaquim Vieira considerou que existe “muita ignorância sobre o protagonismo que Mário Soares teve”, apontando que o antigo chefe de Estado foi “uma figura única a nível mundial como político”.
“Numa certa altura da sua carreira política, conseguiu reunir atrás dele a apoiá-lo toda a direita. E depois, cerca de uma década mais tarde, conseguiu reunir atrás dele a apoiá-lo toda à esquerda. E eu não encontro isso… em Portugal, não há de certeza, e não sei se no estrangeiro existe”, sublinhou.
Joaquim Vieira insistiu que Soares tem “o mérito” de ter conseguido “congregar apoios num leque muito variado de sensibilidades políticas”, compreendendo, em cada momento, “aquilo que era mais importante”.
Mário Soares, nascido a 07 de dezembro de 1924, foi uma das principais figuras da resistência ao regime do Estado Novo, primeiro-ministro de três governos constitucionais (1976/1978, 1978 e 1983/1985) e chefe de Estado entre 1986 e 1996.
O centenário do seu nascimento vai ser assinalado com uma sessão solene na Assembleia da República na sexta-feira (dia 06), além de um vasto programa que decorre até ao final de 2025 e que irá estender-se a vários pontos do país com exposições, edições literárias e iniciativas culturais.
Lusa