“Entendo que é uma questão tão óbvia, tão óbvia, tão óbvia de prevenção e tomada de medidas cautelares para acautelar possíveis novas vítimas e acautelar os próprios eventualmente envolvidos, que penso que uma reflexão atenta levará a que se faça aquilo que num primeiro momento, a meu ver incompreensivelmente, não se fez”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.
Em Gondomar, no distrito do Porto, à margem do Congresso Extraordinário da Liga dos Bombeiros Portugueses, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu, em declarações aos jornalistas, que “há coisas que têm de ser feitas e quando mais depressa melhor”
“Foi dito pela Conferência Episcopal que a reflexão continua. Ao continuar, a reflexão deve significar o abrir caminho ao que foi feito e podia ser feito de outra forma”, referiu.
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Questionado sobre decisões de algumas Dioceses de não afastarem os padres referenciados como suspeitos de terem abusado sexualmente de menores, Marcelo Rebelo de Sousa não respondeu a casos concretos nem especificou a que Dioceses se refere, mas reiterou que quem tem responsabilidades deve ser afastado.
Para o Presidente da República, a primeira medida imediata é “não se demorar mais tempo em tudo o que não se pode perder tempo”.
“Segundo, assumir a responsabilidade plena. Terceiro tomar medidas preventivas, o que significa afastar do exercício de funções ou de responsabilidades pastorais quem deve ser afastado por essas medidas preventivas e mostrar a vontade de reparar as vítimas”, acrescentou.
Marcelo Rebelo de Sousa também mostrou preocupações com o futuro: “É evidente que a preocupação em relação ao futuro deve existir porque é um problema nacional”, concluiu.
Em entrevista à RTP e ao Público, divulgada na quinta-feira à noite, o Presidente da República já tinha defendido que a Igreja deveria tomar medidas preventivas para evitar novos abusos sexuais nos casos em que já haviam sido identificados suspeitos e manifestou-se desiludido com a Conferência Episcopal.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, constituída por decisão da Conferência Episcopal Portuguesa e coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, validou 512 testemunhos, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4.815 vítimas.
Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.
A comissão entregou uma lista de alegados abusadores no ativo à Conferência Episcopal Portuguesa.
No relatório, divulgado em fevereiro, a comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais devem ser entendidos como a “ponta do iceberg”.