António Guterres referiu que missões de paz em África estão a funcionar com muitas limitações devido a “grandes incertezas de financiamento” e voltou a pedir aos membros do Conselho de Segurança da ONU para considerar a aprovação de mandatos para operações da União Africana.
“Agora, mais do que nunca, as operações de apoio à paz da União Africana requerem mandatos do Conselho de Segurança, ao abrigo do Capítulo VII da Carta, e um financiamento previsível garantido por contribuições fixas. Exorto-vos a considerar este assunto novamente o mais rápido possível”, declarou hoje o secretário-geral, numa intervenção no Conselho de Segurança, em Nova Iorque.
Guterres alertou que os grupos terroristas aproveitam-se do sofrimento das populações, criadas por instabilidade e alterações climáticas, para fazerem promessas de “proteção, dinheiro e justiça” e tornar-se “mais atrativos”, como no caso da região do Lago Chade ou no centro do Mali.
“A degradação ambiental permite que grupos armados não estatais estendam a sua influência e manipulem recursos para o seu proveito”, acrescentou António Guterres, indicando os casos de Iraque e Síria, onde o Daesh “explorou a escassez de água e assumiu o controlo da infraestrutura hídrica para impor a sua vontade às comunidades”.
Para o líder da ONU, organização com 193 Estados-membros, toda a comunidade internacional e os 15 membros do Conselho de Segurança têm de tomar uma abordagem “integrada” em cinco áreas de ação coletiva.
Estas áreas são a prevenção e respostas às causas da insegurança, os investimentos na adaptação e resiliência às alterações climáticas, sistemas de alertas precoces para riscos climáticos em todas as iniciativas de prevenção de conflitos, desenvolvimento de parcerias com abordagem local, regional e nacional e, por fim, o investimento sustentado para combate ao terrorismo.
“A mudança climática não é a fonte de todos os males, mas tem um efeito multiplicador e é um agravante da instabilidade, do conflito e do terrorismo”, declarou o secretário-geral da ONU.
António Guterres citou dados do Programa Alimentar Mundial (PAM) que estima que as mudanças climáticas podem aumentar o risco de fome e desnutrição em 20% até 2050.
Previsões do Banco Mundial também apontam que, ao mesmo tempo, as alterações climáticas podem levar ao deslocamento de mais de 200 milhões de pessoas.