“Sejamos francos. Ainda existem muitas diferenças significativas”, disse Guterres aos jornalistas antes de se juntar às discussões.
“Precisamos de um grande esforço para chegar à linha de chegada”, acrescentou.
O novo e vago projeto de texto de acordo sobre dinheiro para os países em desenvolvimento fazerem a transição para a energia limpa, hoje divulgado, foi rejeitado pela maioria dos países presentes na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2024 (COP29).
O texto deixava de fora um ponto crucial: quanto pagarão as nações ricas aos países pobres. No documento, o valor mínimo dos doadores estava preenchido apenas por um “X”, já que os países ricos ainda não fizeram uma oferta nas negociações.
A presidência da conferência, que decorre no Azerbaijão, conseguiu apenas unir os países pelo desconforto total em relação a um pacote de propostas divulgado esta madrugada.
Os negociadores estão a tentar aproximar as posições entre o mundo em desenvolvimento, que diz serem necessários 1,2 mil milhões de euros para o financiamento climático e as nações mais ricas, que, até agora, apenas admitiram dar poucas centenas de milhões.
Mas um documento onde não consta nenhum valor para a transição climática deixa todos desapontados.
Os especialistas independentes afirmam que é necessário pelo menos mil milhões de dólares (cerca de 950 milhões de euros) de financiamento para ajudar deixar de usar combustíveis fósseis que aquecem o planeta e passar para energias limpas, como a solar e a eólica, para uma melhor adaptação aos efeitos das alterações climáticas e para pagar as perdas e danos causados por condições meteorológicas extremas.
A ministra do Ambiente da Colômbia, Susana Mohamed, afirmou que sem um valor oferecido pelos países desenvolvidos, “não se está a negociar nada”, enquanto Juan Carlos Monterrey Gomez, do Panamá, adiantou que “a falta de transparência no compromisso parece uma bofetada na cara dos mais vulneráveis”.
“É simplesmente um desrespeito total para com os países que estão a suportar o peso desta crise”, disse, acrescentando que “os países desenvolvidos devem parar de brincar com vidas e colocar em cima da mesa uma proposta financeira séria e quantificada”.
Também Esa Ainuu, da pequena ilha de Niue, no Pacífico, criticou a falta de um número no projeto de acordo, lembrando que a questão é fundamental para a sua população.
“Não podemos fugir para o deserto. Não podemos escapar para outro lugar. Esta é a realidade para nós. Se não há nada de positivo em termos de valores, [então] porque viemos para a COP?”
Mohamed Adow, diretor do think tank Power Shift Africa, também manifestou desapontamento pela falta de um número.
“Precisamos de um cheque, mas tudo o que temos agora é um pedaço de papel em branco”, disse, enquanto o diretor do grupo de reflexão sobre o clima marroquino, Iskander Erzini Vernoit, admitiu estar “sem palavras sobre o desapontamento sentido depois de se ter chegado tão longe e continuar a não haver números sérios em cima da mesa nem um envolvimento sério por parte dos países desenvolvidos”.
Também o enviado climático da UE à conferência da ONU sobre as alterações climáticas em Baku, Wopke Hoekstra, classificou o projeto como “desequilibrado, impraticável e inaceitável”, posição a que hoje os Estados Unidos se juntaram.
“Estamos, francamente, profundamente preocupados com o flagrante desequilíbrio do texto neste momento”, disse John Podesta, que representa a administração de Joe Biden na COP29.
Em comunicado, a presidência da COP29, representada por Mukhtar Babayev, sublinhou que os projetos “não são finais”.
“A porta da presidência da COP29 está sempre aberta e acolhemos com agrado quaisquer propostas que as partes pretendam apresentar”, afirmou, admitindo que, possivelmente, os números para uma meta financeira serão divulgados num próximo projeto de acordo.
Lusa