“Assumamos o compromisso de defender os direitos humanos e a dignidade para todos e de combater a discriminação, a intolerância e o ódio quando iam de surgirem”, incitou.
A mensagem foi deixada num vídeo exibido durante a cerimónia de inauguração da Casa Museu de Aristides Sousa Mendes, em Cabanas de Viriato, concelho de Carregal do Sal, distrito de Viseu, onde marcou presença o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
“A inauguração do Museu acontece num momento crucial, porque hoje o nosso mundo é perigoso e está dividido. O número de pessoas forçadas a abandonar as suas casas atingiu um nível recorde”, referiu.
António Guterres aludiu ainda ao frequento ódio e intolerância, bem como ao antissemitismo, anti-islamismo e ataques contra cristãos e outros grupos.
“Corremos o risco de esquecer a nossa humanidade partilhada”, alertou, apontando o exemplo de Aristides de Sousa Mendes, o cônsul de Bordéus que passou milhares de vistos para que judeus pudessem entrar em Portugal, desrespeitando uma ordem direta do seu governo.
“Deixemo-nos inspirar pela sua memória, ganhemos coragem com o exemplo da sua bravura. Aristides de Sousa Mendes foi um bastião de coragem, de compaixão e de convicção, no mundo em total colapso moral”, acrescentou.
Ao longo da sua intervenção, António Guterres recordou que o diplomata se viu perante uma escolha difícil: seguir as ordens do seu governo ou salvar vidas.
“Escolheu salvar vidas. Com a chegada evidente dos nazis a Bordéus, Aristides de Sousa Mendes sabia que não tinha tempo a perder e ignorou a infame ‘Circular 14’ do seu governo, que negava vistos de passagem segura de refugiados para Portugal e que designava explicitamente refugiados judeus”, indicou.
Trabalhando dia e noite, Aristides de Sousa Mendes estabeleceu “um sistema rápido para carimbar e assinar passaportes e emitir vistos que salvaram vidas”.
“Para poupar tempo e emitir mais vistos, a sua assinatura foi ficando cada vez mais curta: de Aristides de Sousa Mendes para Sousa Mendes, para simplesmente Mendes. Ao longo de algumas noites sem dormir, emitiu milhares de vistos”, evidenciou.
Para António Guterres, o legado de Aristides de Sousa Mendes consiste em “vidas salvas e vidas vividas”, incluindo a de uma jovem que, anos mais tarde, se tornaria a mãe do seu próprio porta-voz nas Nações Unidas.
“Pelo seu lado extraordinário, Aristides de Sousa Mendes foi pessoalmente repreendido pelo ditador António de Oliveira Salazar e expulso do corpo diplomático sem qualquer pensão. Aristides de Sousa Mendes morreu na pobreza, mas nas décadas seguintes, a magnitude e a bravura das suas ações foram gradualmente reconhecidas e foram tomadas medidas para corrigir as injustiças de que foi alvo”, concluiu.
Lusa