O alerta é dado pelos administradores hospitalares, mas a situação estende-se aos hospitais privados, indústria e distribuidores farmacêuticos, que estão a defrontar-se com um aumento de preços que já era pronunciado em 2021 devido à crise energética, mas que se agudizou com a guerra, refletindo-se nas contas do gás, da eletricidade, nos transportes, no preço das matérias-primas, equipamentos e mão-de-obra.
“Temos uma série de equipamentos, de materiais que estão com subidas de 25 a 30%, o que está a colocar uma pressão tremenda nos custos dos hospitais, particularmente quando os orçamentos dos hospitais têm sido sempre em função dos orçamentos dos anos anteriores e, portanto, não têm acompanhado esse crescimento de custos”, disse à agência Lusa Xavier Barreto, vogal da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH).
Para Xavier Barreto, os hospitais têm que ser dotados do financiamento adequado para poderem “fazer melhor negociação com os fornecedores e os melhores negócios”, mas o que "se percebe claramente" é que está desadequado face ao que os hospitais estão a fazer neste momento.
“Continuarmos a restringir o financiamento dos hospitais é contraproducente se queremos os hospitais com bons resultados, nomeadamente resultados financeiros”, avisou,
Os hospitais privados também têm sentido um “aumento bastante significativo” nos custos energéticos, mas também com pessoal, que já vem antes da guerra, disse à Lusa o presidente da Associação Portuguesa da Hospitalização Privada (APHP).
Óscar Gaspar disse temer que a situação se agrave mais, “pelo menos, num futuro próximo”.
“Embora algumas pessoas dissessem que a inflação era um fenómeno transitório, eu penso que já decorreu tempo suficiente para percebermos que não é”, disse, advertindo: “não há apenas uma variação que possa agora reduzir-se. Pelo contrário, há um aumento sustentado”.
Para responder a esta pressão, os hospitais privados, numa primeira fase, fizeram um ajustamento para ganhar em termos de produtividade e acomodar esses aumentos de custos, mas a partir de uma altura, deixou de ser possível.
“O aumento de custos é tão pronunciado que vai acabar por ter impacto no custo da prestação de cuidados de saúde”, salientou.
O responsável adiantou que está a decorrer um processo de negociação entre os hospitais e as seguradoras, “que sabem que o aumento de custos é real”.
“Nunca é simpático dizer isto, mas os custos dos hospitais repercutem-se nas seguradoras e também nos subsistemas, por exemplo, a ADSE que também têm que ter em conta este fenómeno, que nos apanha a todos”, referiu Óscar Gaspar.
Já foi dito também pela Associação Portuguesa de Seguradores que poderá haver um aumento do prémio dos seguros que as pessoas ou as empresas pagam para acomodar a inflação.
A indústria farmacêutica também não é exceção nesta crise, onde o aumento do preço eletricidade e do gás “é bastante significativo”, segundo José Redondo, da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma).
“No nosso caso, e penso que não será diferente para outras empresas, o preço do gás por megawatt passou de 45 euros, em média, no ano passado para 165 euros neste primeiro semestre” e os gastos com a energia elétrica e o ‘fuel’ triplicaram.
“Para quem tem uma fábrica isto são custos importantes”, afirmou José Redondo, realçando ainda os aumentos, entre os 30% e os 50%, no material de embalagem, que variam entre os 30 e os 50%, nos laminados utilizados para envolver os comprimidos (20 a 25%) e nos transporte.
Também atingidos pela inflação, os distribuidores farmacêuticos dizem que as grandes dificuldades centram-se nos custos energéticos, assegurando que cadeias de abastecimento estão a funcionar bem.
“No primeiro trimestre deste ano, sentimos já um aumento de cerca de 15% nos custos energéticos totais, quer de armazéns, quer de transporte, disse o presidente da Associação de Distribuidores Farmacêuticos (Adifa).
Nuno Flora adiantou que esta situação tem “um impacto fortíssimo nas empresas” e está a preocupar os países europeus, porque são custos que “poderão colocar em causa” a qualidade de alguns serviços prestados.
A presidente da Associação Portuguesa de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (APOGEN), Maria do Carmo Neves, também manifestou preocupações sobre a subida abrupta da taxa de inflação.
“Caso não sejam implementadas medidas urgentes para assegurar a sustentabilidade da cadeia de produção dos medicamentos genéricos e biossimilares, existe o risco de comprometer a manutenção de muitos medicamentos no mercado, trazendo inevitáveis consequências no acesso e na geração de valor em saúde”, avisou.