"Do ponto de vista profissional, acho que aquilo que aconteceu, e que ainda se está a desenvolver, foi especialmente triste", afirmou na Comissão de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear do SESARAM, realçando que a situação "prejudica as relações entre as pessoas" e "não resolve rigorosamente nada".
Luís Oliveira considerou ainda que "os doentes estão especialmente confusos".
A comissão de inquérito foi constituída após uma reportagem da TVI, emitida em fevereiro, onde se referiu que o Hospital do Funchal encaminhava pacientes para fazer exames de medicina nuclear numa clínica privada do Grupo Joaquim Chaves Saúde, em atividade na Madeira desde 2009, enquanto a sua própria unidade, inaugurada em 2013 e certificada em 2017, estava "praticamente parada".
Na primeira sessão, o coordenador e único especialista da unidade pública, Rafael Macedo, reafirmou a situação e disse também que "alguns colegas são negligentes", quer no setor público como no privado, acusando-os de fornecerem tratamentos que "não são adequados", apontando ainda deficiências nas fichas clínicas e no registo de doentes.
Rafael Macedo, que, entretanto, foi suspenso pela administração do SESARAM, sublinhou em particular os serviços de Hemato-Oncologia, Urologia e Ortopedia, afirmando que funcionam "muito mal" e não requerem a totalidade dos exames necessários.
O responsável médico para a área de Medicina Nuclear (Lisboa e Funchal) da Joaquim Chaves Saúde considerou, por seu lado, que este acontecimento é "inédito" no país, realçando que, na sua opinião, as motivações de Rafael Macedo são políticas.
"Encontrámo-nos perante eleições [regionais em setembro]. Eu julgo que a motivação seja essencialmente política. Na minha opinião, o dr. Rafael Macedo tem um propósito político, tem talvez a intenção de não fazer uma carreira médica, mas fazer uma carreira política", disse.
Luís Oliveira explicou, no entanto, que nada o move ao nível pessoal em relação a médico madeirense, com quem disse ter falado apenas três vezes, duas das quais por telefone.
O responsável considerou, por outro lado, que a reportagem da TVI "foi uma armadilha", considerado que foi feita uma tentativa de realizar exames na clínica da Joaquim Chaves na Madeira com base em prescrição duvidosa, aparentemente passada por Rafael Macedo.
Entre 2009 e 2018, o Governo Regional da Madeira pagou 22 milhões de euros a uma clínica do grupo Joaquim Chaves Saúde para a prestação de serviços, sendo que 1 milhão e 550 mil euros visou a área da medicina nuclear e o restante – mais de 90% – cuidados de radioterapia, um serviço que o setor público não dispõe.
Foi este contrato que lançou suspeitas na opinião pública e motivou a constituição da Comissão Eventual de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear, formada por deputados do PSD, PS, CDS/PP, BE e JPP, e com um prazo máximo de funcionamento de 120 dias.
LUSA