“O poder central em Portugal é muito forte. Muitas pessoas, por conformismo, não querem estar contra o poder. Querem estar a favor do poder, mesmo grupos económicos e, por isso, há menos espaço para a afirmação da sociedade civil”, afirmou.
O ex-governante social-democrata e antigo presidente da Comissão Europeia falava no Funchal, no âmbito da conferência ‘Crise na Participação Política – O Desafio da Década’, organizada pelo PSD/Madeira, uma iniciativa integrada no projeto Compromisso 2030, com vista a recolher contributos para a elaboração do programa de governo que o partido vai apresentar nas legislativas regionais deste ano.
“Em Portugal, eu gostava de ver uma sociedade civil mais independente, mais forte. Acho que há talvez um peso excessivo do poder central em Portugal”, afirmou Durão Barroso, para logo acrescentar: “Gostava que houvesse uma sociedade civil mais forte do ponto de vista das empresas, dos sindicatos, das universidades, da expressão do pensamento, das organizações não-governamentais.”
“Acho que há no nosso país, até por razões económicas, há um peso excessivo do Estado, mas isso não quer dizer que a democracia esteja em causa. Há felizmente democracia em Portugal”, reforçou.
Durão Barroso não quis comentar em concreto a atuação do executivo socialista, mas alertou para a importância de os governos serem humildes.
“A minha mensagem está clara, é esta, é evitar, seja qual for o partido, seja qual for o governo, evitar arrogância, ser-se humilde, o poder, seja o poder nacional ou qualquer outro poder, evitar qualquer forma de complacência, mostrar respeito pelas pessoas, procurar representá-las o mais possível”, disse.
Ainda em relação ao poder do Estado, Durão Barroso considerou que a Região Autónoma da Madeira, onde o PSD governa desde 1976, tem sido “notável”, na medida em que “é sempre uma afirmação de autonomia e de independência em relação ao poder central”.
O antigo primeiro-ministro avisou, por outro lado, que as novas gerações estão “desiludidas” e que há um “descrédito em relação à função política”, alertando para os perigos que as democracias representativas enfrentam atualmente, face a “populismos” e “demagogias extremas”.
“Portugal não está na pior situação, comparando com outros. Temos, apesar de todas as dificuldades e desafios, uma democracia pluralista, temos liberdade”, disse, realçando, no entanto, que “não se pode dar nada por adquirido”.
Lusa