Questionado sobre a polémica da entrada de assistência humanitária no país, o deputado que em tempos foi apoiante de Chávez, não tem dúvidas: "Eu digo que é obrigatório, imprescindível para a população venezuelana receber ajuda. Quando vamos aos supermercados, às farmácias não há o que precisamos. Quanto aos medicamentos, a escassez é pior. Está à volta de 90%, disseram-me peritos".
O deputado diz mesmo que espera que essa ajuda não seja apenas uma ajuda inicial, "oxalá dure no tempo", no entanto realça que o mais importante é que o país saia desta crise e "comece a produzir".
A posição do governo português reconhecendo a autoproclamação de Juan Guaidó enquanto Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes não é considerada por Manuel Teixeira como um problema para a comunidade portuguesa.
"Pela importância da comunidade portuguesa na Venezuela, o governo venezuelano estará um pouco mais tranquilo do que em relação a outros países", explica.
O momento de impasse político que se vive é motivo de grande preocupação para este político de esquerda.
"Temos situações como se estivéssemos em guerra, mas não estamos em guerra. Percebe-se nas ruas, em alguns dias, a total normalidade, noutros dias há protestos. Nos povoados do interior há protestos pelo gás, alimentos, medicamentos. A situação está muito complicada pela hiperinflação, pela escassez. É um processo a agravar todos os dias" denuncia o deputado.
Como sobrevivem os venezuelanos nesta crise? "Muita gente está a ir embora, muitos atravessam a fronteira para a Colômbia, Equador, Peru e alguns vão para a Europa. Quem está na Venezuela come uma a duas vezes por dia, consoante a sua posição económica. Vivem do que têm em poupanças. Outros vendem coisas. É uma situação de sobrevivência, as pessoas estão desesperadas".
Em relação a uma eventual entrada de tropas norte-americanas na Venezuela, o deputado mostra-se totalmente contra salientando que a ajuda alimentar e de medicamentos é bem-vinda, mas não a intervenção militar.
"O povo da Venezuela é um povo pacífico, não gosta de violência. Qualquer outro país com uma situação como a nossa já tinha havido muitos mortos, e violência nas ruas. Mas o povo da Venezuela ama a vida. Uma intervenção militar dos americanos seria muito complicada, porque haveria mortos e estragos, seria devastador e a Venezuela não quer isso", defende o político lusodescendente.
Sobre o seu posicionamento em relação à esquerda do PSUV, de Nicolás Maduro, o deputado do MPV justifica o seu apoio a Chávez num determinado momento político em que existia muita corrupção.
"O Chávez e os movimentos de esquerda trouxeram um projeto humanista solidário com as classes menos favorecidas e nós acompanhámos", salienta.
Depois, diz, o sistema político foi degenerando. "Agora, temos uma situação muito complicada por causa dos erros, não só do governo, mas também da oposição", explica.
Questionado sobre se o MPV continua a ser um partido de esquerda, garante que sim.
"Não tenha dúvidas. Este não é um governo de esquerda. È um governo de direita. Um governo que, em nome da esquerda, faz tanta atrocidade… de princípio tinha como prioridade as classes baixas, mas isso foi mudando com o tempo e agora temos gente indiferente ao sofrimento do povo", acusa.
A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.
Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.
Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.
A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.
A repressão dos protestos antigovernamentais desde 23 de janeiro provocou já 40 mortos, de acordo com várias organizações não-governamentais.
Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados da ONU.
Na Venezuela, antiga colónia espanhola, residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.
C/ LUSA