“Falei várias vezes, ao longo destas intensas horas, com o Presidente do Brasil sobre o Mercosul […] e a forma como quer Portugal, quer o Brasil podem ajudar a que o Mercosul e a UE se aproximem”, considerou António Costa, em conferência de imprensa ainda antes do final dos trabalhos da cimeira entre a UE e os países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), em Bruxelas.
Questionado sobre o acordo comercial com a Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela que falhou em 2019, o primeiro-ministro recordou que o quadro político do Brasil era diferente na altura e que o então Presidente Jair Bolsonaro “não tinha nenhum compromisso com as alterações climáticas, cuja existência negava”.
A Venezuela está suspensa deste acordo desde 2017, por incumprimentos, nomeadamente, a interiorização de regulações tarifárias.
“Hoje o Presidente do Brasil é o campeão da defesa da Amazónia, é o campeão da luta contra a desflorestação, o campeão da luta contra as alterações climáticas”, acrescentou.
António Costa reconheceu que “há avanços entre os países do Mercosul” e que, em princípio, já está preparada a resposta que vai ser apresentada à União Europeia.
O objetivo, acrescentou, é que o acordo seja possível até ao final do ano, ainda sob a presidência espanhola do Conselho da UE.
No próximo domingo há eleições legislativas em Espanha, mas na opinião de António Costa uma eventual alteração na composição do Governo não vai colocar em causa o acordo com o Mercosul.
“Tenho a certeza de que a posição de Espanha relativamente ao Mercosul é uma posição de Estado que não se alterará mesmo que haja alguma alteração na composição do Governo”, referiu.
O protocolo UE-Mercosul abrange 25% da economia global e 780 milhões de pessoas, quase 10% da população do mundo.
O acordo comercial foi estabelecido pelas partes em 2019, altura em que foram concluídas as negociações, mas a sua ratificação está paralisada por causa das reservas ambientais e também por receios comerciais de alguns países europeus.
No seu todo, a região da América Latina e Caraíbas é responsável por mais de 50% da biodiversidade do planeta, representando também 14% da produção mundial de alimentos e 45% do comércio agroalimentar internacional líquido. É ainda uma potência para energias renováveis, com as fontes alternativas a serem responsáveis por cerca de 60% do cabaz energético da região.
Espanha assume a presidência do Conselho da UE no segundo semestre de 2023.
Lusa