Acompanhado pelo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, António Costa esteve primeiro no Museu do Chiado, onde visitou a exposição “Porquê – a arte contemporânea em diálogo com José Saramago”.
Depois, numa manhã cinzenta, mas sem chuva, seguiu a pé pelas ruas da baixa de Lisboa até à Fundação José Saramago, onde participou numa sessão dedicada ao escritor, que foi aberta pela atriz Maria do Céu Guerra com a leitura de textos de Saramago.
“José Saramago faz cem anos, mas as suas histórias foram muito mais do que cem anos. Espero que alguém esteja daqui a cem anos a continuar a relembrar as palavras de José Saramago, que se multiplicaram a em expressões” artísticas diversas, completou, aqui numa alusão à exposição que visitara pouco antes no Museu do Chiado.
Na sua breve intervenção, no encerramento da sessão, o primeiro-ministro procurou sobretudo realçar “a universalidade e a intemporalidade” de José Saramago.
“É por isso que aqui hoje estamos. Não é para invocar o passado, mas os cem anos que ele gostaria que todos construíssemos a partir de hoje”, defendeu.
Na perspetiva de António Costa, a capacidade do escritor de inspirar os outros foi mesmo uma das suas grandes missões.
“Ele foi muito mais do que um escritor, ele foi um homem do seu tempo, do seu mundo e do mundo com que sonhou e que achou que tínhamos todos o direito e o dever de sonhar e de procurar. Foi por isso um homem de causas”, sustentou.
Numa referência indireta à ideologia comunista de José Saramago, o líder do executivo observou que ele defendeu causas que nem todos partilham, dando como exemplo a presença naquela fundação do espólio de Vasco Gonçalves, antigo primeiro-ministro de governos Provisórios.
Mas, acrescentou António Costa logo a seguir, “defendeu causas que muitos partilham”.
“Tive a honra de ser o número três de uma lista em que José Saramago foi eleito presidente da Assembleia Municipal de Lisboa. E houve causas que, felizmente, todos partilham e são causas comuns à humanidade”, frisou.
Para o primeiro-ministro, “há sempre velhas desigualdades que persistem, há sempre novas formas de violar os direitos humanos e há batalhas de sempre, como, infelizmente, as batalhas pela paz – batalhas que se tornam presentes”.
Neste contexto, António Costa referiu um texto “muito bonito” que José Saramago escreveu sobre o apelo à paz País Basco, que depois se concretizou, “mas ontem [na terça-feira] caiu um míssil na Polónia e morreram duas pessoas”.
Citando Saramago, o primeiro-ministro concluiu: “Trata-se de tornar mais forte a vontade da paz do que a vontade da guerra”.