Ao discursar na cerimónia, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa destacou: “o museu que se quer vivo para testemunhar o que não queremos que seja o presente, nem o futuro”.
Uma tarefa essencial, “sobretudo para os jovens de amanhã saberem aquilo que devem rejeitar, sempre: não há confusão possível entre opressão e liberdade, entre ditadura e democracia”, realçou.
O futuro nasce da união no passado, referiu José Maria Neves, Presidente cabo-verdiano, que evocou a revolução de 25 de Abril de 1974 para relembrar que “os povos de Portugal e das colónias estiveram na mesma trincheira” contra a ditadura portuguesa.
“Hoje são novos os desafios e horizontes, numa conjuntura mundial cada vez mais complicada”, apontando como exemplo as vagas migratórias de quem foge da violência e de “novas prisões”, acrescentou, apelando ao reforço da “democracia” com humanidade.
A democracia requer “cuidados permanentes” para que “nunca mais se fale de campos de concentração”, concluiu.
O chefe de Estado da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, prestou homenagem, no seu discurso, “inclinando-se” perante a memória dos presos políticos.
Da mesma forma, o ministro da Defesa de Angola, em representação do presidente João Lourenço, enalteceu todas as iniciativas que destaquem a resistência ao regime colonial.
Um grupo de 22 deles, aprisionados na segunda fase do campo, oprimindo anticolonialistas, estiveram presentes hoje.
Luís Fonseca, antigo embaixador cabo-verdiano, secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) entre 2004 e 2008, usou da palavra como porta-voz dos presos políticos.
O ex-recluso 343 recordou um encarceramento que pretendia fazer desaparecer os ideais de liberdade, mas que produziu solidariedade, pensamento e até poesia e novas canções.
Da mesma forma, pediu que haja solidariedade para com a Palestina, numa alusão ao conflito na faixa de Gaza, considerando que a ofensiva de Israel parece colocar apenas como opções “o extermínio ou o exílio”, de formas semelhantes às práticas da era colonial portuguesa.
Para que não haja mais “tarrafais”, importa que novas gerações visitem o antigo campo do Tarrafal, hoje Museu da Resistência, que cumpre preservar e desenvolver.
À tarde, os presidentes realizam uma visita guiada ao campo e as comemorações do dia terminam com um concerto com Mário Lúcio (Cabo Verde), Teresa Salgueiro (Portugal), Paulo Flores (Angola) e Karyna Gomes (Guiné Bissau), com entrada livre.
Mais de 500 pessoas que estiveram presas no “campo da morte lenta”.
Um total de 36 pessoas não sobreviveu, a maioria, 32 mortos, eram portugueses que contestavam o regime fascista, presos na primeira fase do campo, entre 1936 e 1956.
O campo reabriu em 1962 com o nome de Campo de Trabalho de Chão Bom, destinado a encarcerar anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde – altura em que morreram dois angolanos e dois guineenses.
A libertação de quem se opunha ao Estado Novo aconteceu poucos dias depois de o regime fascista ter sido derrubado com a revolução do 25 de Abril de 1974 em Portugal.
Lusa