A Câmara do Funchal está disponível para desenvolver projetos científicos em parceria com o Governo da Madeira para "acrescentar mais valor" à Reserva Natural das Ilhas Selvagens e "afirmar a soberania portuguesa", anunciou hoje o presidente da autarquia.
"Não há dúvidas de que as ilhas pertencem administrativamente ao concelho do Funchal e também não há dúvidas de que são reserva natural e, como tal, estão sob tutela do Governo Regional. Mas não deve haver qualquer guerra de galos entre as entidades", declarou à agência Lusa Paulo Cafôfo, no decurso de uma visita às Selvagens, a 300 quilómetros a sul da Madeira.
O autarca salientou que a Câmara do Funchal é a única do país que possui um Departamento de Ciência e Recursos Naturais e, por outro lado, produz investigação científica através do Museu de História Natural e da Estação de Biologia Marinha, vincando que esta é também uma forma de afirmar a soberania portuguesa.
"As ilhas têm sido alvo de disputa entre espanhóis e portugueses e nós queremos afirmar a soberania também através do conhecimento. Não estamos a afirmar do ponto de vista militar nem diplomático, mas através do conhecimento", disse Paulo Cafôfo, que foi a primeira figura pública a visitar as Selvagens desde o Presidente da República, Cavaco Silva, em 2013, e o único a desembarcar nas três ilhas: Ilhéu de Fora, Selvagem Grande e Selvagem Pequena.
"Penso que o Parque Natural da Madeira (entidade que gere as Selvagens) só terá a ganhar com a Câmara Municipal do Funchal", reforçou Paulo Cafôfo, sublinhando que a primeira expedição científica multidisciplinar às Selvagens, em 1963, foi organizada pelo então designado Museu Municipal do Funchal.
O presidente da autarquia partiu para as Selvagens na quinta-feira (11 de junho) e regressou hoje ao Funchal, a bordo do NRP Schult Xavier, da Marinha Portuguesa, acompanhado por uma comitiva que incluía os vereadores Miguel Gouveia (Finanças), Domingues Rodrigues (Urbanismo, Proteção Civil, Trânsito e Mobilidade), Alícia Abreu (sem pelouro), a responsável pela reserva natural, Carolina Santos, o diretor do Departamento de Ciência e Recursos Naturais da autarquia, Manuel Biscoito, e o investigador associado do Museu de História Natural, Francis Zino. O comandante da Zona Marítima da Madeira, Félix Marques, também acompanhou a visita.
"Tínhamos dois grandes objetivos ao fazer esta viagem: conhecer uma parcela do território do concelho do Funchal e, através do departamento de Ciência, conhecer a sua biodiversidade e geodiversidade", disse Paulo Cafôfo, realçando que "as ilhas Selvagens pertencem administrativamente à freguesia da Sé e o presidente da Câmara não podia ficar sem conhecer uma parcela do seu território".
O primeiro desembarque, após 16 horas de viagem, aconteceu no Ilhéu de Fora. A comitiva seguiu depois para a Selvagem Grande, onde pernoitou dois dias, e, por fim, visitou a Selvagem Pequena. As três ilhas ficam à vista umas das outras, havendo duas estações de vigilância: na Selvagem Pequena (sazonal) e na Selvagem Grande (permanente).
A reserva natural ocupa uma área de 9.455 hectares, dos quais apenas 3% são superfície terrestre. A espécie emblemática é a cagarra, uma ave marinha cuja colónia está estimada em 29 mil pares, mas também marcam presença o calcamar, o roque de castro, a alma negra e o pintainho, este mais raro. Em terra, dominam as lagartixas e as osgas, bem como várias espécies de plantas.
Na Selvagem Grande, existe uma casa, propriedade de Francis Zino, que paga Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI), bem como um posto de correio e respetivo código postal, inaugurado em 2003 por Jorge Sampaio, então Presidente da República, particularidades que Paulo Cafôfo destaca como elementos de afirmação das ilhas enquanto território municipal, regional e nacional.