"Estamos a aproximar-nos, ou talvez já tenhamos chegado, do fim de um longo período de declínio do número de armas nucleares em todo o mundo", disse à AFP Dan Smith, diretor do Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla original).
O número total de ogivas nucleares entre as nove potências nucleares – Grã-Bretanha, China, França, Índia, Israel, Coreia do Norte, Paquistão, Estados Unidos e Rússia – caiu para 12.512 no início de 2023, em comparação com 12.710 no início de 2022, segundo o SIPRI.
No entanto, 9.576 estão em "stocks militares para uso potencial", mais 86 do que um ano antes.
Destas, 3.844 ogivas estavam instaladas em mísseis e aviões, e cerca de 2.000, quase todas nos Estados Unidos e Rússia, em estado de alerta operacional elevado.
A dimensão do arsenal destes dois países, que juntos representam 90% do total de armas nucleares, "parece ter permanecido relativamente estável", embora a transparência nesta área tenha diminuído na sequência da intervenção militar russa na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.
A organização estima que a China aumentou neste último ano o número de ogivas nucleares em 17%, e espera-se que continue a crescer, podendo ter no final da década tantos mísseis balísticos intercontinentais como a Rússia e os Estados Unidos.
O SIPRI distingue entre as existências disponíveis para utilização e o inventário total, que inclui equipamento demasiado antigo e que precisa de ser desmantelado.
"A reserva é constituída por ogivas nucleares utilizáveis e estes números estão a começar a aumentar", afirmou Dan Smith, salientando que os números ainda estão longe das mais de 70.000 registadas na década de 1980.
Com o maior aumento da China, de 350 para 410 ogivas, Dan Smith salientou que o país investiu fortemente nas suas forças armadas à medida que a sua economia e influência cresceram.
A Índia, o Paquistão e a Coreia do Norte também aumentaram os seus stocks, tal como a Rússia, em menor escala (de 4.477 para 4.489), enquanto as outras potências nucleares mantiveram os seus volumes.
Para Dan Smith, este aumento das existências não pode ser explicado pela guerra na Ucrânia, tendo em conta o longo tempo necessário para desenvolver ogivas nucleares e os países que fizeram esta escolha e que não são diretamente afetados pelo conflito.
Outros dados do relatório indicam que o Reino Unido deve aumentar o seu número de ogivas, e que a França prossegue os programas de desenvolvimento de uma terceira geração de mísseis balísticos nucleares lançados por submarinos e de mísseis de cruzeiro por via aérea.
E sugere-se que Israel, que não admite publicamente possuir armas nucleares, também esteja a modernizar o seu arsenal.