"Em primeiro lugar, acho que é um tema que obviamente choca toda a sociedade, que nos perturba a todos, sobretudo porque não sinaliza só abusos sobre crianças no seio da Igreja, ou nos espaços da Igreja, mas por ser uma realidade mais transversal à sociedade", disse António Costa esta tarde no Porto.
À margem de uma aula que deu hoje na Faculdade de Direito da Universidade Católica do Porto, intitulada "Novos desafios e constantes da geopolítica portuguesa", o primeiro-ministro avançou que as ministras da Justiça e do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social vão reunir-se também com a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica.
"A senhora ministra da Justiça, a senhora ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social irão reunir também com a Comissão, porque acho que há um conjunto de lições a retirar para outros domínios, porque seguramente aquela realidade não aconteceu só naquele contexto específico", afirmou.
António Costa destacou ainda que a Igreja teve "coragem" e "transparência" para desenvolver este trabalho em profundidade.
"Acho que a Igreja teve uma grande coragem, uma grande transparência, uma grande ousadia para fazer este trabalho em profundidade, mas que nos obriga a todos a interrogarmo-nos sobre outros domínios, outros espaços", disse ainda o primeiro-ministro.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica recebeu 512 testemunhos validados relativos a 4.815 vítimas desde que iniciou funções em janeiro de 2022, anunciou o seu coordenador, Pedro Strecht, ao apresentar o relatório na segunda-feira.
Os casos de abusos sexuais revelados ao longo de 2022 abalaram a Igreja e a própria sociedade portuguesa, à imagem do que tinha ocorrido com iniciativas similares em outros países, com alegados casos de encobrimento pela hierarquia religiosa a motivarem pedidos de desculpa, num ano em que a Igreja se vê agora envolvida também em controvérsia, com a organização da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa
Esta comissão enviou para o Ministério Público 25 casos de entre os 512 testemunhos validados recebidos ao longo do ano, anunciou hoje o coordenador Pedro Strecht.
Lusa