Em causa está "um muro de pedra que pertence ao Recolhimento do Bom Jesus da Ribeira, uma construção determinada pelo cónego Gonçalves Cidrão em cerca de 1640", explicou à Lusa o historiador Rui Carita.
Este muro, referiu, foi descoberto durante a execução de novas infraestruturas para as redes de água potável e de águas residuais e pluviais.
O executivo madeirense foi informado pela autarquia do achado e decidiu suspender a obra porque "os trabalhos que decorrem na rua do Bom Jesus, pela Câmara Municipal do Funchal, estão a incidir na zona de proteção de 50 metros contados a partir dos limites exteriores do imóvel Recolhimento do Bom Jesus, classificado como de interesse público".
O governo argumenta ainda que os órgãos competentes da administração do património cultural, neste caso o executivo regional, através da Secretaria de Turismo e Cultura (SRTC), "têm de ser previamente informados dos planos, programas, obras e projetos, tanto públicos como privados, que possam implicar risco de destruição ou deterioração de bens culturais e que de nada foram informados”.
A obra foi suspensa por determinação do Governo da Madeira e a autarquia já procedeu de acordo com o solicitado.
O vice-presidente do município, Miguel Gouveia, explicou à Lusa que a ordem foi acatada num "espírito de diálogo" e que é intenção da autarquia "ir ao encontro das orientações que forem dadas pela Direção Regional de Cultura", cumprindo com aquilo que está previsto na proteção do património.
A autarquia já solicitou parecer à SRTC para indicar os procedimentos a seguir, perante os possíveis achados arqueológicos no local.
A paragem temporária da obra, reconheceu, poderá acarretar "um deslize" nos tempos previstos de execução, mas a autarquia crê “que será rapidamente ultrapassado".
O Convento de Recolhimento do Bom Jesus da Ribeira está situado no centro da cidade e, de acordo com Rui Carita, é datado de cerca de 1640, sendo muito provável que o muro agora descoberto seja do mesmo período.
O Recolhimento do Bom Jesus tinha "senhoras viúvas, raparigas solteiras sem posses, onde se recolhiam, logo dificilmente teria uma fachada virada à rua. Teria um muro de proteção para ninguém ver lá para dentro, porque havia um recato muto grande nesse sentido", explicou.
Rui Carita afirmou que esteve no local a ver o material que foi descoberto, considerando que não existe "especial espólio", tendo sido avistados restos de telha.
Considerou, no entanto, que, pela possibilidade de junto a este tipo de locais aparecerem lixeiras, é importante "ver, porque é uma maneira de caracterizar a sociedade que vivia ali nas imediações".
Arqueologicamente, o especialista considera que o achado "deverá ser registado, minimamente investigado para saber o que existe à volta”.
LUSA