“A portaria que veio definir a medida de apoio ao regresso de emigrantes a Portugal, no âmbito do programa Regressar, exclui os emigrantes da Madeira e Açores”, declarou no plenário do parlamento madeirense, no Funchal, Ana Cristina Monteiro, deputada do CDS-PP, partido proponente da iniciativa.
A parlamentar argumentou que a portaria “estabelece um tratamento diferenciado e discriminatório” ao prever apoios apenas para os emigrantes que regressem ao território de “Portugal continental”.
Para o CDS-PP, esta situação viola o princípio da igualdade e os direitos de deslocação e emigração.
A proposta foi aprovada na generalidade, especialidade e em votação global com o apoio dos deputados de PSD, CDS e JPP, abstenção do deputado único do PCP e os votos contra do PS, o maior partido da oposição no parlamento madeirense (ocupa 19 dos 47 lugares no hemiciclo).
Pelo PSD, Carlos Fernandes corroborou a posição do parceiro da coligação (CDS), acrescentando que “a autonomia não pode ser utilizada como forma do Estado se desresponsabilizar de uma obrigação que é sua e dar um tratamento discriminatório aos cidadãos das ilhas”.
Por seu turno, o deputado do JPP Élvio Sousa afirmou que a proposta merecia “globalmente o apoio” desta força partidária, defendendo que as “situações discriminatórias devem ser corrigidas” e os princípios constitucionais “são para serem respeitados”.
No seu entender, os emigrantes das regiões autónomas foram deixados, neste programa, “ao Deus dará”.
“Pode não ser inconstitucional, mas é injusto e é preciso corrigir esta injustiça”, defendeu o deputado único do PCP, Ricardo Lume.
O parlamentar recordou que, depois dos melhores quadros terem sido levados a emigrar pelo então primeiro-ministro do PSD Pedro Passos Coelhos, o programa Regressar foi a forma que o Governo da República “encontrou para apoiar o regresso dos emigrantes”, complementando que não foi a forma "mais justa", uma vez que o programa "não pode ser aplicado na região”.
Mas para o PS, o projeto de resolução do CDS-PP apresenta várias irregularidades, o que motivou a discordância do grupo parlamentar.
“Está pobremente fundamentado” e é “um trabalho amador, com erros grosseiros do ponto de vista formal”, justificou a deputada socialista Elisa Seixas.
Entre outros aspetos, apontou que o pedido de inconstitucionalidade deveria ser dirigido ao Tribunal Constitucional e que não foi apresentado o relatório prévio formalmente exigido.
Também argumentou que vários empresários na Madeira foram apoiados com recurso a este programa e que “as políticas de emprego estão regionalizadas” no arquipélago, considerando que “quem está em falta para com os emigrantes que regressam é o Governo Regional”, liderado pela coligação PSD/CDS-PP.
Depois da aprovação da iniciativa, a Mesa da Assembleia da Madeira deve, no prazo de três dias, formalizar o pedido de inconstitucionalidade junto do Tribunal Constitucional.