"Este empolamento corresponde, se calhar, a um desejo ou a uma preocupação da própria população em relação ao que se passa na saúde", afirmou António Pedro Freitas, na Comissão de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear do Serviço de Saúde da Madeira (SESARAM).
António Pedro Freitas disse, por outro lado, que está a decorrer um "processo de averiguações" na Ordem dos Médicos sobre as declarações do coordenador e único especialista da unidade pública de medicina nuclear, Rafael Macedo, vincando que há queixas de colegas e do SESARAM contra ele.
Na semana passada, Rafael Macedo disse na comissão de inquérito que "alguns colegas são negligentes", quer no setor público como no privado, acusando-os de fornecerem tratamentos que "não são adequados", apontando ainda deficiências nas fichas clínicas e no registo de doentes.
O coordenador da Unidade de Medicina Nuclear, entretanto suspenso pela administração do SESARAM, sublinhou em particular os serviços de Hemato-Oncologia, Urologia e Ortopedia, afirmando que funcionam "muito mal".
"Formalmente, na Ordem temos queixas seja do SESARAM, seja de alguns colegas sobre o que foi dito e, portanto, [o processo] vai percorrer o caminho normal", esclareceu António Pedro Freitas.
O responsável explicou também que o Conselho Médico da Madeira da Ordem tentou inquirir Rafael Macedo na sequência da polémica, que adquiriu dimensão nacional depois de uma reportagem transmitida em fevereiro pela TVI, mas este "faltou à convocatória".
Por outro lado, informou os deputados que o coordenador da Unidade de Medicina Nuclear não apresentou queixa contra os colegas, apesar das denúncias que fez no parlamento.
"Seja como for há sempre duas hipóteses: ou a pessoa prova o que diz e tem razão ou, se não consegue provar, tem de sofrer as consequências", reforçou.
António Pedro Freitas vincou, no entanto, que há um "empolamento" sobre o funcionamento da unidade pública de medicina nuclear, considerando que "a questão em si, se calhar, não é tão importante", sendo que o problema principal reside no próprio sistema regional de saúde ao nível das consultas, das listas de espera, da perda de profissionais e da dependência do exterior.
"Estes problemas não estão a ser resolvidos, até acho que estão a ser potencializados", afirmou.
Entre 2009 e 2018, o Governo Regional da Madeira pagou 22 milhões de euros a uma clínica do grupo Joaquim Chaves Saúde para a prestação de serviços, sendo que 1 milhão e 550 mil euros visou a área da medicina nuclear e o restante – mais de 90% – cuidados de radioterapia, um serviço que o setor público não dispõe.
Foi este contrato que lançou suspeitas na opinião pública e motivou a constituição da Comissão Eventual de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear, formada por deputados do PSD, PS, CDS-PP, BE e JPP, e com um prazo máximo de funcionamento de 120 dias.
C/ LUSA