As tradicionais filas de clientes que procuram nos supermercados de Caracas produtos básicos, escassos no mercado local, aumentaram nos últimos dois dias, sendo ao mesmo tempo visível uma maior presença de militares e polícias junto daqueles estabelecimentos.
Em Chacaíto (leste de Caracas), junto do supermercado Central Madeirense (propriedade de portuguesas), duas anciãs portuguesas esperavam, hoje, junto a centenas de pessoas, para comprar "pelo menos um ou dois produtos dos que fazem falta lá em casa".
"Espero ter sorte e que me vendam, antes que termine, algo de ‘harina pan’ (farinha de milho moído), açúcar, margarina, óleo, massa e arroz", explicou uma delas à agência Lusa, queixando-se do "inclemente calor" e de que terá que acudir aos "bachaqueros" (vendedores informais) para comprar o que falta, dez vezes mais caro.
Juan Pérez, um humilde pedreiro de 45 anos que não reside na zona, disse à Lusa que está preocupado pela situação, porque dispensa mais de um um dia útil à semana, às vezes também os sábados e aos domingos, para tentar conseguir produtos básicos, importados pelo Estado a preços preferenciais, sem a certeza de que conseguirá o objetivo.
"Na passada quarta-feira, na zona vivo, fui fazer fila, um dia antes do dia que me corresponde (pelo último número do Bilhete de Identidade). Queria comprar pelo menos óleo, farinha de milho, arroz, massa, margarina e açúcar. Pelo número que me deram já havia mais de 1.200 pessoas pela minha frente, todas anotadas por antecipação", disse.
Contrariado, explicou que na quinta-feira saiu de casa pelas 04:00 horas da manhã, com o seu número, para a fila e durante todo o dia apenas conseguiu comprar "uma garrafa de óleo, ‘cedido’ por uma rapariga que não tinha dinheiro suficiente" e o produto acabou-se, com algumas centenas de pessoas a terem que abandonar o estabelecimento sem comprar nada.
"Trabalho por conta própria. Não trabalhei esse dia e por isso não tive senha. Perdi tempo também na quarta-feira para me inscrever. Tenho uma criança que alimentar e hoje, ao passar por aqui, disseram-me que chegaram algumas coisas para vender. Tive que adiar o trabalho e ainda assim serei obrigado a recorrer ao mercado negro", disse.
Algumas das pessoas na fila queixavam-se de que os preços de alguns produtos, cujos valores não estão tabelados (afixados) pelo Governo, aumentaram para quase o dobro no espaço de uma semana, enquanto outras esperavam que "o que fosse vendido" chegasse para todos.
Na Venezuela são frequentes as queixas dos cidadãos de dificuldades para conseguir produtos básicos e medicamentos que escasseiam no mercado local.
Estes produtos chegam aos supermercados em quantidades insuficientes para a população e custodiados por oficiais da Guarda Nacional Bolivariana (polícia militar) e da Polícia Nacional Bolivariana, sendo muitas vezes vendidos antes de ser colocados nas prateleiras.
C/Lusa