Nas conclusões da avaliação anual a Portugal, a missão do Fundo Monetário Internacional (FMI), liderada por Rupa Duttagupta, espera que o crescimento diminua dos 4,9% registados no ano passado para cerca de 4,5% em 2022 e 2% em 2023, representando uma revisão em baixa cumulativa de cerca de um ponto percentual em relação ao pré-guerra.
No World Economic Outlook (WEO), publicado em abril, o FMI previa uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal de 4% este ano e de 2,1% em 2023.
No documento divulgado hoje, a equipa do FMI explica que o crescimento deverá ser impulsionado pelo consumo privado, apoiado por uma normalização mais rápida da taxa de poupança das famílias, pelo investimento público, refletindo o Plano de Recuperação e Resiliência, e pelas exportações, com o turismo a atingir o nível pré-pandemia em 2023.
O FMI assinala também que, apesar dos menores aumentos na energia e preços de eletricidade face à zona euro, as pressões inflacionistas ampliaram-se, apesar de vincar que, contudo, a inflação salarial permanece contida, abaixo do resto da zona euro.
Os técnicos assinalam que “a inflação deverá subir para 6% em 2022 e começar a recuar em 2023 devido à queda dos preços da energia e dos alimentos”.
Em abril, o FMI previa que o Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) em Portugal se situasse nos 4% este ano.
A missão destaca ainda que a economia portuguesa ganhou terreno em 2021 após a profunda recessão provocada pela pandemia.
“Refletindo a relevância do turismo, a economia foi mais atingida do que a zona euro (EA), mas uma resposta política decisiva e abrangente, reforçada pela resposta ao nível da UE [União Europeia] e pelo BCE [Banco Central Europeu], ajudou a moderar o impacto da pandemia nas famílias e empresas”, pode ler-se nas conclusões da avaliação anual da instituição, que destaca ainda a forte campanha de vacinação, que permitiu o levantamento das restrições de atividade e apoiou a recuperação até o início de 2022.
No entanto, dá nota dos novos riscos provocados pela guerra na Ucrânia, considerando que apesar do impacto para Portugal ser sobretudo indireto, os preços das ‘commodities’, maiores estrangulamentos na oferta, confiança e procura externa mais fraca e condições financeiras mais apertadas deverão pesar na recuperação e na subida dos preços.
Considera, assim, que os riscos são inclinados para o lado negativo, decorrendo da excecional incerteza em torno da guerra e de potenciais novas ondas de vírus.
O FMI indica que condições financeiras mais apertadas podem prejudicar o crescimento e a posição orçamental e que os efeitos do fim das moratórias dos empréstimos ainda não foram totalmente materializados, podendo eventualmente expor maiores insolvências, reduzindo o investimento e capitais bancários.
Acrescenta ainda que a utilização mais lenta dos fundos do Next Generation EU (NGEU) apresenta riscos adicionais, sublinha que a dívida pública permanecerá alta e os preços imobiliários em alta constituem uma vulnerabilidade adicional.
Do lado positivo, a continuação da forte recuperação do turismo, recuperação da procura reprimida apoiada pelas altas taxas de vacinação e maiores retornos dos investimentos em NGEU melhorariam as perspetivas.
Nas conclusões da missão lê-se ainda que, após o tão necessário apoio orçamental em 2020-21, manter uma política orçamental amplamente de apoio em 2022 é apropriado.
A robusta recuperação do emprego e do consumo, juntamente com a plena reabertura da economia, justificam a continuação do desanuviamento este ano das medidas excecionais de apoio à pandemia.
“Excluindo essas medidas – que devem ser substituídas por procura privada – um défice orçamental projetado de 2,4% do PIB é apropriadamente acomodatício”, acrescenta.
A equipa do FMI manteve contactos com as autoridades portuguesas durante os dias 21 de outubro a 04 de novembro de 2021 (virtualmente) e de 09 a 13 de maio de 2022 (presencialmente).