No arranque do certificado digital – que permite que os cidadãos da União Europeia (UE) viajem dentro do espaço europeu desde que comprovem que foram vacinados, que já contraíram a covid-19 ou com um teste negativo – as filas regressaram a Zaventem, o principal aeroporto da capital belga.
“Há muita gente, é a época das férias, e há muita gente à volta. Estive aqui há poucas semanas e não havia quase ninguém, hoje há mesmo muito mais gente: é um sinal de que as coisas estão definitivamente a melhorar”, disse à Lusa Marco, de 56 anos, que utilizou pela primeira vez o certificado digital para viajar para Veneza.
Maaike Andries, porta-voz da companhia aérea belga, Brussels Airlines, também se mostrou “contente” com a “boa atmosfera” que se vive no aeroporto belga, e considerou o certificado digital um “passo na direção certa”.
No entanto, a responsável indiciou que o arranque do certificado está a ter alguns “problemas”, e as operações que estão a decorrer no aeroporto não se distinguem muito do que acontecia antes do documento entrar em vigor, devido à dificuldade em utilizar o código ‘QR’ que consta no certificado.
“É algo que ainda não podemos utilizar: era a solução prometida para simplificar as operações, para fazer com que tudo andasse mais depressa para os passageiros e para o pessoal do aeroporto, mas quando fazemos o ‘scan’ do código, só vemos se é válido, mas não o seu conteúdo”, informou a responsável.
Andries referiu assim que o pessoal no ‘check-in’ não consegue verificar se “a pessoa está completamente vacinada”, se “só recebeu uma dose” ou “se tem anticorpos à covid-19”, o que obriga a companhia a continuar a exigir os comprovativos correspondentes.
“Os passageiros ainda precisam de nos mostrar se têm um teste PCR válido ou os comprovativos de vacinação completa, consoante o país para que vão viajar. Portanto, ainda estamos a trabalhar exatamente no mesmo registo que nas últimas semanas e meses, com a única diferença de que há talvez menos documentos que precisam de ser verificados”, disse a responsável.
As dificuldades na verificação do documento fazem-se notar junto dos passageiros: Segundo Erik, que utilizou o certificado para regressar à Eslováquia, o certificado torna a “viagem mais confortável” e “mais prática”, mas está a gerar demasiadas filas no aeroporto belga.
“Acho que as filas, e o facto de as pessoas estarem a verificar tudo manualmente, não ajuda muito. Devia haver uma maneira de tornar o procedimento mais flexível, talvez comprovando o certificado através do ‘check-in’ ‘online’”, afirmou o viajante eslovaco.
João, que viaja hoje para Lisboa, referiu que o certificado “vale o que vale” e que, apesar de poder “ajudar” a retomar alguma normalidade em termos de viagens, “há uma grande margem de manobra para os Estados ajustarem as medidas à maneira deles”.
Além disso, o português acrescentou que o procedimento para se aceder ao documento é “um bocado complicado” porque “cada Estado-membro tem a sua aplicação”.
“Eu preferia andar com uma aplicação que toda a gente tivesse, e aparentemente não é o caso, e tenho de andar aqui com papéis para trás e para a frente. Há muitas coisas ainda a melhorar no certificado”, apontou o português.
Apesar das dificuldades, a porta-voz do aeroporto de Bruxelas, Ihsane Chioua Lekhli, disse à Lusa que “a melhoria na situação sanitária, graças às campanhas de vacinação”, está “efetivamente” a ter um “impacto positivo” no tráfego aéreo que passa por Zaventem.
“O certificado digital covid-19 da UE irá tornar as viagens mais fáceis e mais práticas para os passageiros e para as companhias aéreas, porque [apenas] terão de verificar ou o teste ou o certificado de vacinação”, salientou a porta-voz.
Como testemunham estatísticas publicadas na segunda-feira pelo aeroporto, e comprova o movimento que se regista hoje no ‘hall’ de entrada, a “azafama está a regressar lentamente” a Zaventem: após uma queda de 74% na circulação de passageiros entre 2019 e 2020, o aeroporto espera receber 2,5 milhões de viajantes durante os meses de julho e agosto, longe dos 5,3 milhões que circularam no mesmo período em 2019, mas quase o dobro do milhão de passageiros que utilizou o aeroporto para as férias de verão em 2020.
Apesar dos sinais positivos, o impacto da pandemia permanece: das 74 companhias aéreas que operavam em 2019 para 236 destinos a partir do aeroporto de Bruxelas, restam agora 50 que asseguram viagens para 170 localizações, o que leva a porta-voz do aeroporto a considerar que “o regresso à normalidade irá demorar três a quatro anos”.
Maaike Andries, da Brussels Airlines, também considerou que o fluxo normal no tráfego aéreo ainda vai demorar, apontando para 2023, mas admitiu, no entanto, estar “feliz” pela “positividade” que se está a registar hoje no aeroporto.
“Há mesmo uma boa atmosfera aqui hoje. É ‘stressante’, estamos a encontrar dificuldades, mas também há muito positividade: é bom ver os passageiros felizes por poderem voltar a ir de férias”, afirmou Andries.
C/Lusa