Com ‘apenas’ oito vitórias em 22 corridas já disputadas este ano, o piloto da Red Bull, conhecido por ‘Mad Max’, numa referência à personagem do ator Mel Gibson no filme homónimo, está cada vez mais maduro e dominador desportivamente na Fórmula 1, juntando-se a um lote de apenas cinco pilotos que tinham conquistado quatro ou mais títulos.
Uma lista encabeçada pelo alemão Michael Schumacher e pelo britânico Lewis Hamilton, ambos com sete, seguindo-se o argentino Juan Manuel Fabgio (cinco) e o francês Alain Prost e o alemão Sebastian Vettel, que também têm quatro.
Conhecido pelo seu caráter intempestivo dentro de pista, Verstappen foi já apontado pelo antigo patrão da Fórmula 1, o britânico Bernie Ecclestone, como “a melhor coisa que aconteceu à modalidade nos últimos anos”.
O neerlandês já tinha sido o mais novo de sempre a competir na categoria rainha do desporto automóvel, antes mesmo de ter idade para ter a carta de condução.
Filho de um antigo piloto, Jos Verstappen, ‘Mad’ Max tornou-se em 2022 num dos campeões mais precoces da Fórmula 1, ao assegurar o título a cinco corridas do final, feito que repetiu em 2023.
O neerlandês igualou o britânico Nigel Mansell, ficando apenas atrás do alemão Michael Schumacher, que em 2002 assegurou o título a seis provas do final.
Desde cedo que o jovem Max, filho mais velho de Jos e Sophie Kumpen, entrou no mundo da competição, desde logo porque o pai tinha sido o mais bem-sucedido piloto dos Países Baixos até então.
Ser piloto de Fórmula 1 era “um sonho de criança”, admitiu, no início da carreira.
Mas também a mãe competiu, com sucesso, em karts, modalidade em que o agora campeão se iniciou aos quatro anos de idade.
Aos 15, viria mesmo a sagrar-se campeão mundial em karting, demonstrando que a educação rígida que recebeu em casa estava a formar um piloto de elite.
A relação dura com o pai é um dos segredos mais mal-escondidos do ‘paddock’, e o próprio Max recordou, em 2019, à margem do Grande Prémio da Rússia de Fórmula 1, um episódio em que o pai o abandonou numa bomba de gasolina, em Itália, depois de se ter despistado numa corrida “que deveria ter vencido facilmente”, sendo que os dois estiveram a semana seguinte sem se falar.
É precisamente devido a essa pressão familiar que Max Verstappen não encontrou “surpresas na Fórmula 1”, pois não houve “ninguém mais duro” consigo do que o próprio pai.
Gerindo a carreira do filho com mão de ferro, Jos Verstappen guiou o jovem Max à Fórmula 1 através da Toro Rosso, a equipa satélite da Red Bull, em 2015, iniciando um trajeto em que quebrou vários recordes de precocidade da modalidade.
Com 17 anos e 166 dias, tornou-se, no Grande Prémio da Austrália desse ano, no mais novo de sempre a participar a tempo inteiro no ‘Grande Circo’.
Duas corridas mais tarde, na Malásia, foi o mais novo de sempre a pontuar, com 17 anos e 180 dias, ao ser sétimo classificado.
Em 2016, já com a temporada em curso, o ultra confiante e, por vezes, polémico piloto, que se define como neerlandês apesar de ter nascido na Bélgica, em Hasselt, foi promovido à equipa principal da Red Bull, substituindo o russo Daniil Kvyat. E, logo na corrida de estreia pela equipa, venceu o GP de Espanha, com 18 anos e 228 dias.
O sucesso de Max Verstappen na Fórmula 1 foi sendo construído à base de vários incidentes, muitos deles provocados pela impetuosidade em pista — acompanhado de uma honestidade ‘crua’ fora dela -, fenómeno que este ano esteve bastante mais controlado, o que se traduziu no domínio da temporada.
Depois de dois terceiros lugares no campeonato, em 2019 e 2020, Verstappen, que cumpriu 27 anos em 30 de setembro, conquistou o quarto título da sua carreira depois da vitória polémica de 2021, na última prova da temporada, em Abu Dhabi, frente a Lewis Hamilton, e das temporadas dominadoras de 2022, em que bateu o recorde de vitórias, chegando às 15, e de 2023, em que voltou a bater o mesmo recorde, com 19 triunfos em 22 corridas.
O neerlandês, que em 2021 se tornou no 34.º campeão diferente e no quarto mais novo, atrás do alemão Sebastian Vettel, do próprio Lewis Hamilton e do espanhol Fernando Alonso, persegue, agora, outros recordes da modalidade.
Dono de uma personalidade vincada e pouco expansiva fora da pista, transfigura-se dentro do carro, tendo protagonizado ao longo da carreira diversos incidentes com outros pilotos.
“Eu entro no circuito e mudo a chave de modo calmo para agressivo”, admitiu, em 2016, numa entrevista ao jornal brasileiro GloboEsporte.
Mas a Fórmula 1 está presente na vida do piloto de 27 anos também fora das pistas, pois desde o início de janeiro de 2020 que confirmou o namoro com a modelo brasileira Kelly Piquet, filha do antigo piloto e campeão mundial de Fórmula 1 brasileiro Nélson Piquet.
Avesso aos holofotes da fama, recusou participar no documentário ‘Drive to Survive’ da plataforma Netflix, por não gostar da forma como era retratado nas primeiras temporadas e ficar nervoso com a presença constante das câmaras durante os fins de semana de Grande Prémio.
“Normalmente, não sou alguém que gosta de ter câmaras por perto”, admite.
Contudo, no final de 2020 viria a lançar o seu próprio documentário, ‘Whatever It Takes’, com a sua visão do campeonato.
Aos 27 anos, Max Verstappen encaminha-se para se juntar aos maiores nomes de sempre da Fórmula 1. Para além dos títulos, prestações como a que teve na ronda anterior, no Brasil, em que partiu de 17.º para vencer, numa temporada em que começou por ter claramente o melhor carro da grelha para guiar o quarto mais rápido na segunda metade da época, contribuem para engrandecer a lenda.