“Há muitas vulnerabilidades associadas aos recintos desportivos. É uma estrutura que está aberta sete dias por semana, ao qual acedem uma série de pessoas 24 horas por dia, de diversos serviços, ou seja, há um conjunto de vulnerabilidades que me parece redutor pensar que a prevenção da entrada de engenhos pirotécnicos se resume à entrada para o evento desportivo”, assumiu Ricardo Conceição.
Este responsável da Polícia de Segurança Pública (PSP), coordenador da rede PNID (Ponto Nacional de Informações sobre Desporto), disse que, semanalmente, são identificados e autuados adeptos, cujos processos chegam à Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto (APCVD), números que “não têm diminuído”.
Neste sentido, Ricardo Conceição apontou a necessidade de “criar os mecanismos de sancionamento das pessoas que têm esse tipo de conduta”, assim como a precisão de “alertar para o nível de perigosidade que esses engenhos representam, no transporte e no manuseamento, e também para quem está nos recintos”.
Ricardo Conceição divulgou ainda que nas tipologias prevalentes na época 2023/24 em eventos de competições europeias, houve “570 deflagrações de artigos pirotécnicos”, o que representa 74,7% dos 763 registos ao longo da época.
Os dados foram apresentados no painel sobre os “Desafios de segurança nos eventos desportivos” do congresso S4 (Safety, Security, Service at Sports Events), organizado pela APCVD, que iniciou na quarta-feira e termina hoje.
Neste painel participaram também o brigadeiro general Mário Guedelha da Guarda Nacional Republicana (GNR), o antropólogo Daniel Seabra da Universidade Fernando Pessoa e um elemento do Serviço de Informações de Segurança (SIS), cujo nome não foi divulgado por imposição dessa entidade.
O “senhor SIS”, como foi apelidado, realçou o ciberataque e a forma como os ciberterroristas “entram no computador das pessoas e nos grupos de conversação para fomentar o terrorismo ou mesmo causar danos nas pessoas, através da intrusão no computador”.
“Uma das formas de entrarem é através dos eventos desportivos. As pessoas que assistem online aos eventos sem que para isso paguem uma assinatura ou adesão, que acedem através de páginas ou plataformas que transmitem os eventos e é por aí que são intercetados e permanecem nos computadores”, contou.
Daniel Seabra explanou sobre o fenómeno “casuals”, que “as ciências sociais apontavam para uma moda, mas não é uma moda passageira e justifica uma análise no âmbito da antropologia e sociologia” e “necessita ser conhecida a raiz” deste fenómeno.
O antropólogo traçou o perfil e assumiu que “não são só jovens vestidos de negro com roupa de marca que integram ou não as claques, são também pessoas com profissões e cargos na sociedade importantes, e pais de família” e “há casos que são movidos pelo prazer, sentem muito prazer na violência” e na forma como “marcam o território”.
“Temos atuado no âmbito da repressão, mas o problema é que estamos a pagar alguns erros por parte do legislador e estamos a pagar alguns erros por parte de um enquadramento mediático que foi feito relativamente ao fenómeno”, considerou.
Daniel Seabra disse que “o problema é o quadro de valores em que eles foram integrados”, porque, segundo contou, “fora do contexto eles têm consciência de que aquilo é errado e quando confrontados com a questão, sabem que à luz dos valores das sociedades democráticas é profundamente errado”.
Lusa