Aos que se riram na sua cara, quando dizia que queria chegar à principal competição do mundo, respondeu com trabalho e, três anos depois de trocar Portugal pelos Estados Unidos, foi eleito na 39.ª posição do ‘draft’ e está a meses de se juntar à elite do basquetebol. A época 2021/22 arranca em 19 de outubro.
“Quando dizia que queria chegar à NBA, houve pessoas que se riram na minha cara, houve pessoas que disseram que não era possível. E eu não me preocupei com isso. Tens de acreditar no que tu achas que és capaz de fazer”, disse, recentemente, o internacional luso.
Curiosamente, deverá iniciar – tudo indica, pois pode sempre haver trocas ou outras situações – a sua carreira na NBA na cidade onde brilhou no feminino, na WNBA, a base portuguesa Patrícia ‘Ticha’ Penicheiro, menina da Figueira da Foz, que atuou 12 épocas nas Sacramento Monarchs, sagrando-se campeã em 2005.
Neemias Queta fez-se jogador no Barreiro, ao serviço do histórico Barreirense, clube formador pelo qual alinhou pelos sub-14, sub-16 e sub-18, antes de rumar ao Benfica, em 2017/18, jogando maioritariamente na equipa secundária, na Proliga, com passagens episódicas pela formação principal.
O poste, nascido em 13 de julho de 1999, terminou a primeira época pelos ‘encarnados’ sem um destaque imenso, sem que se visse ali um prodígio, quando completava 19 anos, mas achou, confiante, destemido, que era a altura certa para partir à aventura.
Rumou à Universidade de Utah State, aos Aggies, equipa que não pertence à elite do basquetebol da NCAA, e em pouco tempo começou a mostrar o seu valor, até virar ídolo e tornar-se referência, com melhorias evidentes em todos os aspetos do seu jogo.
O poste luso não é um exímio marcador de pontos, um lançador talentoso ou um jogador imparável, mas, defensivamente, é um portento, ali, junto ao aro, a sua envergadura intimida, ali, em território de ‘gigantes’, nunca podes lançar cómodo à sua frente.
Os Sacramento Kings escolheram um jogador que é um verdadeiro especialista na defesa, um basquetebolista que se tem destacado cada vez mais na ‘arte’ de fazer desarmes de lançamento e ‘limpar’ as tabelas, sobretudo a defensiva, garantindo ressaltos.
No capítulo ofensivo, Neemias Queta também tem progredindo, nomeadamente nos lançamentos de média distância – não será provável vê-lo a lançar ‘triplos’ – e especialmente perto do cesto, onde a sua técnica individual o ajuda.
De 2018/19 a 2020/21, no capítulo universitário, o internacional luso teve médias de 13,2 pontos, 9,0 ressaltos, 2,5 desarmes de lançamento e 2,0 assistências, com 59,4% nos lançamentos de campo.
Trata-se de médias dos três anos, mas há outros números, que mostram a sua evolução, de um jogador que, ainda assim, está longe de ser um ‘produto acabado’: somou 11,8 pontos de média na primeira época, 13,0 na segunda e 14,9 na terceira).
Em 2020/21, acabou mesmo, e pela primeira vez, com média de ‘duplo duplo’ (14,9 pontos e 10,1 ressaltos), mais um recorde de 3,3 desarmes de lançamento, o que fez com que fosse um dos quatro finalistas ao prémio Naismith de melhor defensor do ano do basquetebol universitário (NCAA).
Neemias destacou-se individualmente e foi preponderante no sucesso coletivo de Utah State, que conduziu à vitória na Conferência Montain West em 2019 e 2020. Em 2021, não logrou esse objetivo, mas chegou, ainda assim, ao ‘March Madness’.
Os Aggies caíram na primeira ronda, perante Texas Tech (53-65), apesar dos 11 pontos, 14 ressaltos, oito desarmes de lançamento, seis assistências e um roubo de bola de Neemias, na sua despedida universitária, antes de se propor ao ‘draft’, abdicando da época de ‘senior’, o que aconteceu em 29 de março.
“Depois de conversas com a minha família e os membros da equipa técnica da Universidade de Utah State, decidi perseguir o meu sonho de jogar na NBA e declaro-me para o ‘draft’ da NBA de 2021”, escreveu, então, na sua conta no Twitter.
Em 2019, também se tinha declarado elegível e acabou por recuar, mas, desta vez, a decisão era irreversível e Neemias Queta faz agora parte da NBA e em 2021/22 vai, certamente, tornar-se o primeiro português a tornar realidade o sonho.
O ‘bom gigante’ do Barreiro está lá e vai concretizar o sonho, que foi de Carlos Lisboa, nos anos 80 do século passado, de João ‘Betinho’ Gomes, mais recentemente, e um pouco de todos os que, miúdos, começar a driblar uma bola de basquetebol e a ouvir falar do mundo ‘mágico’ da NBA. Portugal vai entrar no ‘mapa’.