“É uma decisão inevitável, desde logo porque as autarquias e o Governo não autorizam. Depois, não posso dizer aos atletas em outubro que no mês seguinte não há maratona. Por fim, enquanto responsável, não me sinto confortável para organizar um evento que ponha toda a gente ‘a jeito’. Não estamos a ver quando isto vai abrandar, mas neste momento foi pertinente tomarmos esta decisão”, justificou Jorge Teixeira à Lusa.
A distância olímpica voltará a ser percorrida em artérias dos concelhos de Porto, Vila Nova de Gaia e Matosinhos em 07 de novembro de 2021, acompanhando o desfecho de outras provas geridas pela empresa nortenha, como a Corrida da Mulher, que chegou a transitar de 17 de maio para 11 de outubro, antes de ser remarcada para 16 de maio do próximo ano.
“Estávamos a caminhar para os 2.000 atletas na Maratona do Porto. Na Corrida da Mulher esperávamos cerca de 25.000 participantes femininas. Iremos propor três possibilidades para esses dois certames: transitar a inscrição para o ano seguinte, transferi-la para a edição de 2022 ou mudar o titular, segundo a indicação do próprio”, explicou.
Portadora do nível de bronze da World Athletics, a Maratona do Porto superou em 2019 a fasquia de 16.000 corredores de 75 nacionalidades, repartidos pela prova principal, de 42,195 quilómetros, vencida pelo etíope Deso Gelmisa, uma corrida solidária de 15.000 metros e uma caminhada de seis quilómetros, com partida e chegada no Queimódromo.
“Esta pausa é um travão às quatro rodas e exige esforço tremendo para nos aguentarmos de pé. Os nossos grandes eventos começavam a partir de maio e iremos faturar zero. É uma chapada que quase nos convida a fechar portas. O Governo está preocupado com a cultura, mas não nos ouve e esquece-se que geramos turismo e saúde pública”, lamentou.
Devido ao estado de calamidade, a Runporto já tinha remarcado em 11 de maio todas as competições que estavam calendarizadas até ao final de setembro, como as meias maratonas do Porto (de 20 de setembro de 2020 para 19 de setembro de 2021), Braga (de 06 de setembro para 09 de maio de 2021) e Matosinhos (de 26 de julho para 20 de maio de 2021).
“O problema do ajuntamento está no início da corrida, mas aí até conseguimos criar condições para evitá-lo. Assim que os atletas partem, o que há mais é espaço na estrada. Tomámos estas decisões com prejuízo total e fica em aberto o mês de dezembro”, apontou Jorge Teixeira, recusando quantificar os impactos da paragem competitiva.
Com 27 anos de experiência na organização de provas de atletismo, o promotor ainda deposita esperança na realização das corridas de São Silvestre de Braga e Porto, em 20 e 27 de dezembro, respetivamente, embora admita que “será um drama para quem avançar primeiro” na reativação de corridas urbanas de atletismo em solo português.
“Veremos como evoluirá a taxa de desemprego, mas acredito francamente que é nestes eventos que as pessoas vão encontrar um escape. Se a adesão não aumentar em 2021, andará pelos números dos últimos anos. Espero poder trabalhar no próximo ano, mas já meti na cabeça que 2020 não faz parte do meu calendário”, finalizou.
As restrições impostas pela pandemia de Covid-19 vão levar a Runporto a transformar a configuração tradicional da Corrida de São João (20 e 21 de junho) e da Corrida do Pai (05 de julho) num formato digital, em que as distâncias devem ser percorridas de forma individual e em qualquer lugar, respeitando as medidas de distanciamento social.
Essa tendência foi estreada em 30 e 31 de maio, quando a inédita Maratona Virtual Solidária fomentou a prática de exercício físico em plena fase de desconfinamento e premiou todos os atletas com medalha e diploma de participação, revertendo o valor das inscrições para a Cruz Vermelha Portuguesa na luta contra a Covid-19.