O acervo do Arquivo da União dos Caseiros da Ilha da Madeira foi hoje doado ao Arquivo Regional e Biblioteca Pública (ABM) da região para preservação e objeto de futura investigação histórica.
O auto de doação foi subscrito pelo advogado e antigo funcionário da União dos Caseiros da Ilha da Madeira, João Lizardo, e pela diretora regional da Cultura, Teresa Brazão, e pela diretora do Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Fátima Barros.
"Corresponde aos ficheiros da antiga União dos Caseiros da Madeira", explicou o advogado.
As seis caixas de documentação hoje doada ao Arquivo contém as fichas, correspondências, diverso material burocrático e administrativo, o jornal "O Caseiro" e, sobretudo, as escrituras e diligências jurídicas e negociais entre o caseiro, os senhorios e o Governo Regional.
O acervo medeia o intervalo temporal de 1976 a 1992.
"Já não há direção porque entretanto os então caseiros responsáveis já faleceram e, então, ou doávamos este arquivo [na posse de Maria José Afonseca e de João Lizardo] ao Arquivo ou ele acabava por apodrecer", refere a antiga funcionária Maria José Afonseca.
A diretora do Arquivo Regional, Fátima Barros, disse, por seu lado, estar satisfeita com a doação de mais um arquivo privado porque "representa a pluralidade e diversificação do seu acervo".
A documentação deu entrada no Arquivo de forma organizada e inventariada num trabalho realizado pela historiadora Lígia Gonçalves e, depois de expurgada, "estará acessível aos interessados desde que não esteja condicionada a reserva de consulta devido à proteção de dados".
"Esta documentação é muito interessante porque ilustra a luta dos caseiros pela extinção do regime de colonia [que vigorou desde os primórdios da colonização da ilha e que consistia na entrega ao senhorio de uma parte da produção da terra feita pelo caseiro] e expressa a luta daqueles pela propriedade da terra onde viviam e trabalhavam", observa Fátima Barros.
João Lizardo, que também é historiador, destaca que a "espontaneidade dos testemunhos escritos, a sua caligrafia e ortografia gramatical totalmente à parte do mundo escolar e académico mas que, mesmo assim, os caseiros, sem inibições, deixavam escrito".
A diretora regional da Cultura, Teresa Brazão, agradeceu aos privados a "confiança que têm no Arquivo", ao doarem ao mesmo os seus espólios, "enriquecendo-o, diversificando-o e contribuindo para uma visão plural e polifacetada dos fenómenos sociais.
C/Lusa