O investigador português Ricardo Camacho, músico da Sétima Legião, morreu hoje aos 64 anos na Bélgica, em consequência de um cancro no pulmão, disse à agência Lusa o músico Rodrigo Leão.
Nascido na Madeira em 1954, Ricardo Camacho vivia na Bélgica, onde fazia trabalho de investigação no Rega Institute for Medical Research, em Leuven.
Especialista em virologia clínica, Ricardo Camacho era para muitos o teclista da Sétima Legião, grupo formado na década de 1980 e da qual fez parte praticamente desde o início.
"Ele começou como produtor do grupo, era um grande amigo, aprendi muito com ele, no início dos anos 1980, vivemos intensamente todos os concertos. É um bocadinho da Sétima Legião que morre", afirmou Rodrigo Leão.
Como músico, a entrada na Sétima Legião deu-se através da produção. Ricardo Camacho integrava a Fundação Atlântica, fundada por nomes como Pedro Ayres Magalhães e Miguel Esteves Cardoso, e produziu para artistas como Anamar, Né Ladeiras, Ban, Xutos & Pontapés ou Manuela Moura Guedes, que deu voz às canções "Foram cardos foram prosas" e "Flor sonhada", por ele compostas.
Na Sétima Legião, como teclista e produtor, deixa o nome inscrito em álbuns essenciais da história do grupo como "A Um Deus Desconhecido" (1984), "Mar D’Outubro" (1987) e "De Um Tempo Ausente" (1989).
O grupo tinha sido criado por Rodrigo Leão, Pedro Oliveira e Nuno Cruz em 1982, numa altura em se vivia um momento de expansão do rock português, com nomes como Rui Veloso, UHF, GNR e Xutos & Pontapés.
A sonoridade do grupo denunciava influências da música pop rock inglesa, em particular o ambiente de Manchester e de bandas como Joy Divison. Os primeiros temas ainda foram escritos em inglês, mas foi com as letras em português, quase todas de Francisco Ribeiro de Menezes, com a introdução de bombos e da gaita-de-foles, que conquistaram uma marca distintiva na música portuguesa.
No total, editaram seis álbuns, de "A um deus desconhecido" (1984) a "Sexto Sentido" (1999), e nunca anunciou oficialmente um fim, com os músicos a tocarem informalmente ao longo dos anos.
Em 2012, assinalaram os 30 anos de existência do grupo com uma série de concertos. Há um ano, já Ricardo Camacho estava doente, voltaram a reunir-se num concerto no Liceu Passos Manuel, em Lisboa, "para matar saudades", recordou Rodrigo Leão.
Na investigação médica, Ricardo Camacho foi diretor do Laboratório de Virologia do Hospital Egas Moniz e fez investigação no Centro de Malária e outras Doenças Tropicais.
Foi consultor da Comissão Nacional de Luta contra a SIDA, tendo participado ainda em vários estudos internacionais sobre esta doença, na qual se especializou.
Foi ainda professor na Escola Superior de Ciências da Saúde e na Faculdade de Ciências Médicas, ambas em Lisboa, e na Universidade Católica no Porto.
Não ainda informações sobre o funeral, que deverá acontecer na Bélgica.
C/LUSA