O memorial em homenagem ao autor e cantor de Grândola Vila Morena, canção senha da revolução de Abril, é constituído por uma peça de arte urbana que a autarquia sadina descreve como “uma obra com um caráter dinâmico que cria a ilusão de estar em constante movimento, consoante a posição em que o observador se encontre”.
“Com cinco metros e meio de altura, quatro de largura e um metro e meio de profundidade, a peça pode ser observada do mar para a serra, e vice-versa, e tem um efeito transparente quando vista de determinados ângulos, enquanto a partir de outros mostra o retrato de José Afonso”, acrescenta, em nota de imprensa, a Câmara Municipal de Setúbal, promotora da iniciativa.
Segundo a autarquia, a inauguração da obra do escultor setubalense Ricardo Crista, prevista para as 15:00 de sábado, é a primeira iniciativa de 2024 do projeto Venham Mais Vinte e Cincos, que, entre 2022 e 2025, comemora os 50 Anos da Revolução dos Cravos, numa organização da Câmara Municipal de Setúbal com as juntas de freguesia e o movimento associativo.
No âmbito de uma investigação realizada há cerca de cinco anos pelo professor e investigador Albérico Afonso para o Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa (UNL), foram identificados mais de 40 locais “icónicos” na cidade de Setúbal a que José Afonso esteve ligado.
A investigação pedida pela Associação José Afonso (AJA) para elaboração do roteiro “Os Lugares do Zeca na Geografia da Cidade”, que em 2019 assinalou os 90 anos do nascimento de José Afonso, identificou, entre muitos outros locais, o antigo Liceu Nacional de Setúbal.
José Afonso foi nomeado para o antigo Liceu Nacional de Setúbal como professor em 1967, tendo lecionado apenas durante um período, dado que foi expulso do estabelecimento de ensino devido às manifestações de desagrado por parte das famílias de alguns alunos e das elites da época.
O Círculo Cultural de Setúbal, de que José Afonso foi em 1969 um dos fundadores, é outro lugar de grande importância na ligação do cantor aos jovens e à cidade de Setúbal e a que o professor e investigador Albérico Afonso se referiu como “uma espécie de espaço frentista de oposição à ditadura”.
O edifício onde estava instalada a Polícia Internacional de Defesa do Estado/Direção Geral de Segurança (PIDE/DGS) -, no Bairro Salgado, onde José Afonso esteve detido várias vezes, o Clube Naval, onde o cantor foi um dos oradores no primeiro comício do 1.º de Maio de 1974, e o Clube de Campismo, que acolheu o primeiro concerto de José Afonso na cidade, em 1968, são outros locais inventariados pelo investigador Albérico Afonso que evidenciam a ligação de José Afonso à cidade de Setúbal.
Lusa