A “Lapinha” de Francisco Ferreira, mais conhecido como o “Caseiro”, foi montada primeiro na sua casa, ao Caminho do Monte, n.º 62, onde chegou a ocupar dois quartos, e depois na capela anexa, que dedicou ao Menino Jesus e cuja edificação foi autorizada em 1918. Após a sua morte, em 1931, e até ao início da década de 70, salvo raras exceções, manteve-se aberta ao público durante o Natal. Um incêndio, ocorrido em novembro de 1979, destruiu definitivamente a capela, salvando-se o presépio por se encontrar temporariamente recolhido no Museu de Arte Sacra do Funchal.
O conjunto transitou depois para a casa de familiares do autor até 2015, altura em que foi adquirido pela Secretaria Regional do Turismo e Cultura, para integrar o acervo do Museu Etnográfico da Madeira (MEM).
Pretendeu-se, deste modo, garantir a integridade deste presépio, com cerca de 300 peças, proceder ao seu inventário, estudo, restauro e exposição, com o objetivo final de salvaguardar um património único e genuíno, devolvendo ao público uma memória que marcou sucessivas gerações de madeirenses.
Todo o processo de inventariação teve lugar na Casa-Museu Frederico de Freitas, entidade parceira do MEM neste projeto, que também orientou o longo e minucioso processo de restauro executado por Jelka Baras.
Esta intervenção teve por base o respeito pelo trabalho do autor, no tocante aos materiais e técnicas utilizadas, a reposição da integridade dos diversos conjuntos e a retificação de anteriores manipulações. Concluída a fase de conservação e restauro as peças foram transferidas para o MEM, onde um espaço foi propositadamente preparado para a sua futura exposição permanente. O projeto pretendeu ser o mais fiel possível à “Lapinha” original, tendo em conta a menor área disponível, critérios de conservação e segurança das peças, bem como aspetos estéticos.
Simultaneamente, foi planeada uma exposição temporária que teve dois objetivos concretos. Expor o conjunto das imagens religiosas que, não sendo parte integrante da “Lapinha”, coexistiam de forma harmoniosa na capela e apresentar ao público, através de uma mostra fotográfica, todo o processo de musealização, nas suas morosas e diferentes fases.
Baseado numa investigação efetuada junto de alguns familiares e em imagens do Museu de Fotografia da Madeira, em depósito no Arquivo e Biblioteca Pública da Madeira é, ainda, apresentado ao público um conjunto de fotografias, que pretende evocar a memória do espaço original desta “Lapinha”.
Também até ao dia 22 de janeiro de 2022, o átrio do MEM recebe a exposição no âmbito do projeto ‘Reciclar n’a Festa’, iniciativa dos Serviços Educativos da instituição, iniciada em 2013, com o tema “Árvore de Natal” e que enveredou, nos últimos anos, pela temática dos presépios tradicionais madeirenses. Este ano o tema da mostra é “Presépios de caixa ou maquinetas”.
A atividade insere-se no âmbito do projeto “Museu Sustentável”, que tem como objetivo promover a consciência para os efeitos da atuação humana sobre o ambiente e destacar o papel dos museus no desenvolvimento de novos métodos de pensar e de agir, que garantam o respeito pelos limites e pela diversidade da natureza.
Porque reutilizar é uma prioridade e porque o museu pretende transmitir, aos mais jovens, a necessidade de repensar a nossa forma de agir, protegendo o ambiente e promovendo uma vida sustentável, organizam-se, no seio deste projeto, diferentes atividades, ao longo de todo o ano, recorrendo à reutilização de materiais. Neste âmbito, na época natalícia, os serviços educativos promovem uma mostra de trabalhos, em parceria com as Escolas, Lares de Idosos, Instituições do Ensino Especial, Centros Culturais, Centros de Ocupação dos Tempos Livres, Casas do Povo, Juntas de Freguesia e outras instituições. Em 2020, foram 21 as instituições que participaram nesta iniciativa, dando ainda mais cor e alegria à nossa instituição, nesta época natalícia.