“No primeiro volume fazíamos quase na totalidade versões e dois originais, no segundo tínhamos quatro originais e agora temos seis originais e duas versões. Decidimos que agora estávamos na fase de fazer a nossa própria música, de raiz, então, neste volume três invertemos a situação”, afirmou André Santos, em declarações à Lusa a propósito de de “Mano a Mano vol.3”, uma edição de autor, tal como os álbuns anteriores.
Nas composições originais deste disco, há “uma miscelânea” de coisas que foram ouvindo “desde a infância”, contou o músico, recordando as horas que ele e o irmão passavam a ouvir os discos do tio, “um colecionador de discos aficionado”.
“Havia rock, pop, música brasileira, e tudo isso misturado com o nosso campo de estudo, que é o jazz, brota nas nossas composições naturalmente”, referiu.
A título de exemplo, André Santos nomeia os temas “Cabo Verde”, que “remete para umas sonoridades um bocadinho africanas” e “Rosa” e “A Flor do Amor”, que são “canções um pouco mais contemplativas, que remetem um bocadinho para o folk”.
Embora os temas originais não sejam creditados em conjunto, André e Bruno Santos trabalham “muito juntos”, mas “as ideias originais, o embrião, chegam algumas delas já bastante completas, com uma ideia definida do que vai acontecer”.
“Mas depois passamos algum tempo a experimentar, a ver como é que cada um de nós se sente a tocar a música com o outro e fazemos sugestões para dar um cunho pessoal”, explicou André.
As duas versões são “Stardust”, de Hoagy Carmichael, “do cancioneiro norte-americano, mas tocado com um instrumento tradicional madeirense, o rajão”.
Além do rajão, os músicos utilizam no disco um outro cordofone madeirense, o braguinha, que André já tinha utilizado no disco anterior.
“Há dois anos ofereci ao meu irmão um rajão e ele ficou apaixonado pelo instrumento. Então decidimos tocar o ‘Stardust’ nos dois rajões e o ‘Valsa para CDV’, Cândido Drummond de Vasconcelos, um compositor madeirense do século XIX, desconhecido do grande público e que conheci graças à minha tese de mestrado. Nesse [tema] ele toca rajão e eu toco braguinha”, disse.
A outra versão de “Mano a Mano vol.3” é “Noites da Madeira”, “um standard jazzístico, soa a isso, só que feito na Madeira, por um grande pianista, Tony Amaral, que acompanhava o Max”.
A escolha deste tema “é também uma homenagem a essa geração de músicos madeirenses [da qual fazem parte Tony Amaral e Max] que estava ligada ao jazz”.
André Santos redescobriu o tema quando estava a fazer recolhas do projeto Mutrama.
“Quando ouvi atualmente ouvi com estes ouvidos de jazzista e percebi que havia esta harmonia de jazz e comecei a tocá-lo em Mutrama [Música Tradicional Madeirense Revisitada, projeto de divulgação], depois fiz um arranjo que adaptei para Mano a Mano”, contou.
O terceiro volume do projeto Mano a Mano será apresentado a 30 de abril, Dia Internacional do Jazz, às 19:30 num ‘showcase’ na sede da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), em Lisboa.
André e Bruno Santos têm depois concertos marcados a 06 de maio no Funchal, no âmbito da Festa da Flor, a 10 de maio no Porto, no ciclo Jazz na Ordem, e a 25 de maio em Alhandra.
Para janeiro do próximo ano está prevista uma atuação no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
LUSA