“Diários e Escritos Autobiográficos”, de Fernando Pessoa, publicado na coleção Pessoa Breve, dirigida por Richard Zenith e Fernando Cabral Martins, é “um livro dirigido a todo o público”, disse o editor e tradutor norte-americano, que acaba de publicar a edição portuguesa de “Pessoa. Uma biografia”, na Quetzal.
“A ideia deste livro foi a de incluir material autobiográfico e outros textos de caráter autobiográfico que podem servir de complemento de leitura que acompanha a biografia. Há vários textos mencionados na biografia que surgem nesta obra. Tem uma coleção de poemas que consideramos autobiográficos, cartas, algumas cartas inéditas, tudo numa ordem cronológica e com notas de rodapé a explicar referências não muito claras”, esclareceu Richard Zenith.
Segundo a editora, perante o poeta que se desdobrava em heterónimos e afirmou, pela voz de Álvaro de Campos, que “fingir é conhecer-se”, “é difícil saber o que, por detrás das muitas máscaras, ‘realmente’ pensava e sentia”.
“No entanto, é possível distinguir entre o autor literário e o homem civil, quotidiano, por mais que os dois se confundam”, acrescenta.
Nesse sentido, estes “Diários e Escritos Autobiográficos” esboçam um retrato do poeta que, “embora aproximativo e incompleto, tem a virtude de ser feito com as suas próprias palavras”.
Esse retrato “interessa, não apenas para satisfazer a nossa curiosidade e ajudar-nos a compreender a natureza e evolução do génio do escritor, mas também para podermos apreciar melhor a sua vasta obra, na medida em que refere ou implica, direta ou veladamente, as suas experiências de vida”, acrescenta a Assírio e Alvim.
Nas palavras de Zenith e Fernando Cabral Martins, “o fingimento e a autobiografia, em proporções que vão variando, percorrem toda a obra literária de Pessoa, e mesmo os textos não propriamente literários apresentam, por vezes, ‘factos’ inventados”.
“Organizado cronologicamente, este conjunto de textos bastante diversificados permite-nos visualizar, ou pelo menos entrever, o poeta enquanto ser afetivo, com ligações fortes a parentes e amigos ou a braços com as suas preocupações, satisfações, saudades, esperanças e não poucas desilusões”, afirmam os organizadores da obra.
Além de diários e textos de índole diarística, a primeira parte desta edição acolhe um considerável número de cartas, três das quais inéditas, e ainda rascunhos de cartas, apontamentos pessoais e um ou outro excerto de obras literárias.
A segunda parte privilegia poemas ligados a acontecimentos de vida e a situações mais concretas.
Lusa