"Estamos a lutar pela dignidade da classe", afirmou Élvio Camacho, ator de teatro e dirigente da associação cultural Feiticeiro do Norte, realçando que "alguma coisa tem de mudar", em particular o aumento das dotações orçamentais. "Um por cento [do Orçamento do Estado para a Cultura] significa tudo para a sobrevivência" das estruturas culturais, defendeu.
O protesto foi promovido pelo Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos (Cena-STE), pela Rede – Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea, pela Plateia – Profissionais Artes Cénicas, pelo Manifesto em Defesa da Cultura e pela associação Performart, na sequência da divulgação dos resultados provisórios dos concursos do programa de apoio sustentado às artes, da Direção Geral das Artes (DGArtes), para o quadriénio 2018-2021.
No Funchal, os manifestantes, que se concentram na zona velha da cidade, empunham cartazes com inscrições como "A cultura não se fica: evolui" ou "Cultura: Necessidade de muitos, medo de alguns" e gritaram palavras de ordem como "O povo quer cultura" e "Cultura é liberdade".
Na quinta-feira, o Governo anunciou que o programa de apoio sustentado às artes 2018-2021 será reforçado para um total de 81,5 milhões de euros, para apoiar 183 candidaturas, incluindo estruturas culturais elegíveis que tinham sido deixadas de fora, por falta de verba, segundo os resultados provisórios revelados na sexta-feira passada.
Apesar do reforço anunciado pelo Governo, os agentes culturais mantiveram os protestos agendados em várias cidades e, no debate parlamentar de quinta-feira, PCP, Bloco de Esquerda e Os Verdes foram unânimes em exigir uma dotação anual de 25 milhões de euros para apoio às artes, e uma meta de 1% do Orçamento do Estado para a Cultura.
"Um por cento significa tudo para a sobrevivência dos grupos culturais, significa a luta pela produção de pensamento e pela liberdade. É este o contributo que os artistas tentam dar", afirmou Élvio Camacho, cuja organização a que pertence, Feiticeiro do Norte, não foi contemplada pelos apoios do Estado.
Francisco Barradas, um estudante do 3.º ano do Curso de Teatro do Conservatório – Escola Profissional de Artes da Madeira, sublinhou, por seu lado, que decidiu participar no protesto para "defender a dignidade" da profissão que escolheu desempenhar.
"É importante o dinheiro, são importantes os apoios para a Cultura, porque é a Cultura que faz uma sociedade", afirmou.
Posição semelhante foi assumida por Mariça Silva, também aluna do Curso de Teatro: "Espero que a minha geração possa beneficiar de um maior investimento na Cultura. É por isso que estamos aqui reunidos, para que, de facto, haja mudanças", disse, vincando que as profissões artísticas merecem ser reconhecidas como todas as outras.
C/ LUSA