António Costa ajudou a plantar a 99.ª oliveira das 100 que ficarão a ladear uma rua da aldeia natal de José Saramago, no dia em que o escritor faria 99 anos, assinalando o arranque das celebrações do Centenário.
Antes da cerimónia na Azinhaga – na qual foi recebido pela neta de José Saramago, Ana Matos, coordenadora do polo da Azinhaga da Fundação José Saramago, e pelos presidentes da Câmara Municipal da Golegã (Santarém), António Camilo, e da Junta de Freguesia da Azinhaga, Vítor Guia -, António Costa assistiu, numa escola em Rio Maior, à leitura do conto “A Maior Flor do Mundo”, iniciativa que decorreu em simultâneo em 300 escolas do país e noutras nas Canárias e em vários pontos da América Latina.
O primeiro-ministro quis realçar a “mensagem muito atual” do conto, a necessidade de “regar cada flor para que cada flor seja preservada”, desejando que cada um “saiba fazer o que Saramago fez”, uma “obra maior que ele próprio”, que “perdura para além da sua vida na terra”, multiplicando-se "por diversas línguas por todo o mundo”.
“É essa sementeira de leitura que temos que continuar a fazer, porque os livros só vivem se houver quem os leia e é essa a mensagem que temos que dar”, afirmou, desejando que as celebrações do centenário do escritor permitam, sobretudo, “criar novas gerações de leitores de Saramago”.
“É assim que a nossa língua e a nossa cultura se continuarão a valorizar e a enriquecer um pouco por todo o mundo, porque cada um que lê acrescenta um pouco ao livro que o escritor escreveu”, disse, sublinhando o final do conto “A Maior Flor do Mundo”, que “cada um possa reescrever aquela história com as suas próprias palavras e dar-lhe uma nova continuidade”.
Costa disse esperar que as oliveiras para Saramago plantadas na Azinhaga perdurem para que, daqui a um século, “alguém as veja” e “continue a lembrar-se que Saramago existiu e, sobretudo, a ler o que Saramago escreveu”.
O comissário das comemorações do Centenário de Saramago, Carlos Reis, salientou a simbologia da plantação da oliveira com o “semear de leituras” que está a ser promovido em escolas do país inteiro e também de outros locais do mundo.
“Esta cerimónia é carregada de simbolismo, porque não há nada mais futurante do que plantar uma árvore. Ela já não servirá muitos dos que aqui estão, mas fica, como fica a obra de José Saramago”, afirmou.
Ana Saramago Matos salientou o “momento simbólico, repleto de afeto e de sentido para a Fundação e a família” de Saramago, anunciando que cada uma das 100 árvores receberá nomes de personagens dos livros de José Saramago, sendo que a 100.ª, a plantar daqui a um ano, terá o nome da avó Josefa.
“Gostaríamos que estas 100 oliveiras devolvessem a José Saramago aquela infância que ele sentiu que lhe tinham roubado com o desaparecimento dos olivais. Gostaríamos que estas 100 oliveiras fossem um sinal de revolta e de esperança por um mundo mais sustentável”, afirmou a neta do escritor.
Ana Matos incluiu nos seus agradecimentos as muitas pessoas que tornaram a iniciativa possível, como Manuel Coimbra, que ofereceu as oliveiras, e a equipa de jardinagem que diariamente cuida das árvores.
Nas ofertas finais, Ana Matos brindou António Costa com um saco de pano e um bloco com a inscrição da frase de Saramago “O caos é uma ordem por decifrar”.
O convite de Vítor Guia ao primeiro-ministro para um prato de feijão com couves para o almoço ficou para outra ocasião.
A sessão oficial de abertura do Centenário está marcada para as 20:00, no São Luiz Teatro Municipal, em Lisboa, com a escritora Irene Vallejo, que lerá um “Manifesto pela Leitura”, seguindo-se um concerto pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, dirigida pelo maestro Pedro Neves.