Na sua breve intervenção, na presença dos ministros da Cultura, Pedro Adão e Silva, e Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, o líder do executivo disse que a edição deste ano pretende homenagear em especial os galeristas, referindo que Manuel de Brito abriu a galeria mais antiga em atividade no país, a Galeria 111, junto ao Campo Grande, em Lisboa.
“Manuel de Brito foi alguém muito importante para os artistas das décadas de 60 e 70, e posteriores, em períodos muito difíceis. Essa dívida de gratidão que temos é também a oportunidade de lembramos que se vão assinalar os 60 anos da Galeria 111”, indicou, antes de se referir às mudanças que para o ano serão introduzidas na próxima edição da iniciativa “Arte em São Bento”.
“No próximo ano vamos fazer diferente e diria mesmo que é uma opção mais arriscada. Vamos associar-nos às celebrações dos 50 anos do 25 de Abril, e a exposição do próximo ano terá a ver com a arte e a revolução”, começou por referir o primeiro-ministro.
Na perspetiva de António Costa, este período da revolução “foi extraordinariamente criativo e diferente” em relação a todos os outros.
“Em 1974 e 1975 produziram-se obras irrepetíveis. Enfim, todas as obras tendem a ser irrepetíveis, mas essas foram particularmente irrepetíveis e marcadas pelo tempo. Decidimos não ir à procura de um colecionador, mas de um curador que trabalhe com todas as obras de arte que se encontram disponíveis em coleções privadas ou públicas”, dentro ou fora do território nacional, referiu.
Já em relação à escolha de João Fernandes para curador da futura exposição, o primeiro-ministro destacou o seu trabalho em Espanha e agora no Brasil. Fez então, nesta parte da sua intervenção, a única referência de caráter político, aludindo a uma das medidas fiscais que o Governo prometeu concretizar em breve.
João Fernandes “pode fazer uma residência não habitual aqui em Portugal para intervir e preparar a exposição. A má notícia é que vamos acabar com o regime fiscal dos residentes não habituais e, portanto, já não beneficiará dele em 2024”, comentou, provocando alguns risos entre os convidados que o ouviam nos jardins de São Bento.
A mostra hoje inaugurada, com curadoria de Sérgio Fazenda Rodrigues, abre ao público na quinta-feira, dia em que as portas da residência oficial do primeiro-ministro estarão abertas entre as 15:00 e as 19:00, com entrada livre. Fica patente até setembro de 2024, sendo possível visitá-la no primeiro domingo de cada mês.
A exposição conta com trabalhos de, entre outros, Ana Vidigal, António Dacosta, António Palolo, Eduardo Batarda, Helena Almeida, Júlio Pomar, Lourdes Castro, Maria Helena Vieira da Silva, Noronha da Costa, Paula Rego e Rui Sanches.
Antes da intervenção de António Costa, o curador da exposição, Sérgio Fazenda Rodrigues, salientou que a Coleção Manuel de Brito “é uma das maiores e mais expressivas de arte contemporânea do país”.
“Uma coleção internacional que assenta sobretudo numa proximidade aos artistas”, sustentou.
A seguir, em representação da coleção, Arlete Alves da Silva, elogiou a adequação das obras expostas ao espaço interior e aos jardins da residência oficial do primeiro-ministro, assim como realçou que mantém uma estratégia de aquisições.
“Das 40 obras agora expostas, 16 são novas aquisições”, apontou.
Arlete Alves da Silva assinalou também que a galeria iniciou a sua atividade em 1964, “em tempos de grande repressão política” pelo Estado Novo, que se prolongou até Abril de 1974.
“Ao longo de 60 anos, reunimos um importante arquivo, que é regularmente consultado por portugueses e estrangeiros para os seus trabalhos de doutoramento”, disse.
A residência oficial do primeiro-ministro, no Palacete de São Bento, acolhe, todos os anos, uma seleção de obras de artistas portugueses pertencentes a uma coleção de arte contemporânea, numa iniciativa criada em 2017 com o intuito de "afirmar a vitalidade da criação artística nacional e projetar a imagem de um país inovador", segundo um texto da organização.
Nas edições anteriores da Arte em São Bento, a residência oficial acolheu a Coleção de Serralves (2017), a Coleção António Cachola/Museu de Arte Contemporânea de Elvas (2018), a Coleção Norlinda e José Lima (2019), a Coleção Figueiredo Ribeiro (2020), a Coleção AA, de Ana Cristina e António Albertino Santos (2021) e a Coleção Peter Meeker, de Pedro Álvares Ribeiro (2022).
Lusa