“No caso do leite e dos produtos lácteos, a questão que se põe é mais por que é que aconteceu tão tarde? Nós já vínhamos a viver, até previamente à guerra da Ucrânia, com um aumento enorme da energia e dos alimentos para os animais produzirem leite”, defendeu o secretário-geral da Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite (Fenalac), Fernando Cardoso, em declarações à Lusa.
A invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro, fez disparar o preço da energia e também dos cereais.
Assim, conforme defendeu, “mais tarde ou mais cedo” teria que haver uma transmissão dos custos do produtor para o consumidor.
Esta transmissão acabou por acontecer muito tarde, levando a uma escalada repentina dos preços, situação que o setor reconhece, mas não deixa de notar ser imprescindível para a sua sobrevivência.
“O produtor não podia suportar mais este aumento de custos. É uma atividade que vive de margens reduzidas e teve mais um ano de défice”, referiu.
Fernando Cardoso lembrou ainda que rubricas como a energia, alimentos para animais, fertilizantes, fitofármacos e mão-de-obra representam entre 80% a 90% dos custos de produção do leite, daí a necessidade de se verificar um aumento.
“Houve um acumular de situações que não foram transmitidas e quando chegou, aconteceu de uma forma muito marcada para o consumidor e nós reconhecemos que isso aconteceu, mas teria que acontecer. Não podia ser de outra forma”, reiterou.
O secretário-geral da Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep), Carlos Neves, por seu turno, lembrou ainda que para este aumento também contribuiu a seca, que levou mesmo muitos produtores a abaterem os seus animais.
“Não tendo forragens e pastagens e tendo a ração muito cara, muitos produtores optaram por abater animais, o que levou a reduzir a produção e obrigou os vários compradores a subirem o preço ao agricultor e a repercutirem isso no preço de venda”, explicou.
Questionado sobre se o preço ao produtor também aumentou, Fernando Cardoso adiantou que Portugal está agora “muito mais perto” da média comunitária.
“Estamos, neste momento, com um preço à volta de 0,57 euros, eventualmente um bocadinho mais elevado. No início deste movimento, estávamos com preços de 0,36 euros ou 0,37 euros por litro. Houve uma escalada muito marcada do preço do leite ao produtor, numa proporção um bocadinho até maior do que o preço do consumidor”, apontou.
Carlos Neves também referiu que houve um aumento “muito significativo” no preço pago ao produtor, sobretudo entre outubro e novembro.
Porém, o secretário-geral da Aprolep notou que ainda não foi possível recuperar os prejuízos acumulados desde 2021.
“Será preciso bastante tempo até se ganhar o suficiente para equilibrar o prejuízo que se acumulou nos últimos anos. Os agricultores ainda olham com muita apreensão para o futuro. Não sabemos quanto é que este preço vai durar. Não esperamos que continue a haver um aumento generalizado, embora fosse desejável que se nivelasse pelo preço mais alto”, concluiu.
Segundo dados compilados pela Deco, organização de defesa do consumidor, um litro de leite UHT meio gordo custava 0,68 euros em 23 de fevereiro deste ano, valor que ascendeu a 0,96 euros no dia 07 de dezembro.
Neste período, um litro de leite UHT meio gordo registou o seu valor mais alto em 30 de novembro (0,97 euros).
Por sua vez, uma embalagem de 200 gramas de queijo flamengo fatiado passou de 1,99 euros para 2,65 euros, enquanto uma embalagem de 250 gramas de manteiga com sal passou a custar 2,32 euros, quando, em 23 de fevereiro, estava em 1,85 euros.
Já uma embalagem de 200 gramas de queijo curado fatiado teve um aumento, até 07 de dezembro, de 0,47 euros, passando de dois euros para 2,47 euros.
Um ‘pack’ de quatro unidades de iogurte líquido aumentou, no período em causa, 0,23 euros, estando o seu valor em 2,16 euros, enquanto um ‘pack’ de oito unidades de iogurte com aroma passou de 1,83 euros para 1,87 euros, tendo chegado a custar 1,89 euros.