Alberto Freitas precisou de beber uma bebida "para acalmar os nervos", depois do atentado terrorista de quarta-feira, em Londres, cujo impacto sentiu de perto, pois estava no interior do edifício do Parlamento britânico.
"Já passei por muita coisa, mas uma situação destas foi a primeira e não recomendo", disse à agência Lusa, na quarta-feira à noite, no exterior do café Portugal, onde fumava nervosamente um dos últimos cigarros do maço.
Gerente operacional de banquetes da Câmara dos Lordes, Alberto Freitas lembra-se com precisão ter olhado para o relógio às 14:40 (mesma hora em Lisboa) antes de ter saído para o espaço exterior do Palácio de Westminster, onde se encontrava a trabalhar.
"Eu vim cá fora, dentro do parlamento, vi uma confusão, muitos polícias e seguranças a dizer que tinha havido um tiroteio e um esfaqueamento e para a gente ir para dentro", relatou.
Regressou à recepção com 250 pessoas, que estava a supervisionar, e disse às pessoas que não podiam sair e para manterem a calma, o que aconteceu até chegarem a polícia e as forças especiais.
Pelas televisões, o português de 51 anos, natural da Madeira, e muitas outras pessoas que estavam no interior, souberam os detalhes do que acontecera fora dos portões.
Um homem atropelou vários pedestres enquanto conduzia a alta velocidade na ponte de Westminster e depois esfaqueou um polícia numa das entradas do Parlamento. O atacante foi abatido a tiro.
Pelo menos cinco pessoas morreram no atentado de hoje em frente ao parlamento britânico e 40 ficaram feridas, de acordo com as autoridades. Um português foi atropelado no ataque, mas encontra-se bem, informou o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro.
No interior, a polícia "passou tudo a pente fino" para garantir que não existia mais perigo, disse o madeirense, que vive em Londres há 30 anos.
Posteriormente, todas as pessoas que se encontravam no Parlamento – deputados, lordes, cozinheiros e todo o tipo de funcionários – foram levados para Westminster Hall, uma sala grande onde ficaram até às 19:30.
O que se comentava, confiou Freitas, foi alguma surpresa com a pouca organização na gestão da emergência.
"Eles esperavam que a gente gerisse de maneira mais calma e eficaz. Mas a gente entende que numa situação dessas é muito difícil de controlar", comentou.
Apesar de participar em reuniões regulares sobre segurança e o risco de terrorismo, reconheceu que nem ele estava preparado e que "ficou assustado".
"Estou ali há 20 anos e nunca passei por uma situação dessas, foi a primeira vez", garantiu, ainda abalado.
Os restantes colegas já tinham regressado a casa, mas Alberto Freitas ficou para trás, admitindo: "Ainda não sei como é que vou dormir".
No entanto, sabe que vai ter que voltar ao trabalho em Westminster, onde se deverá manter o perímetro de segurança e forte presença policial.
"Já recebi uma mensagem dos meus superiores a dizer que amanhã volta tudo ao normal. Vai ser normal, mas a gente cancelou os banquetes. Amanhã vamos refletir sobre o que se passou e o que se pode fazer no futuro, numa situação destas", adiantou.
Noutros estabelecimentos portugueses de Stockwell, o sentimento era também de relativa normalidade, passada a preocupação das primeiras horas, descreveu António Ramos, funcionário do café Estrela.
Com a televisão sintonizada num canal português de informação, para os clientes acompanharem o que se passava na capital britânica, Ramos disse que os atentados de 2005 em Londres "foram mais alarmantes".
"Agora já não é aquela surpresa. Aconteceu noutros países e as pessoas já começam a estar habituadas", justificou.
Também António Costa, funcionário no restaurante The Three Lions, mostra algum estoicismo em relação ao atentado, no qual morreram pelo menos cinco pessoas e 40 foram feridas, muitas com gravidade.
"Numa cidade destas era de prever. Em 2005 foram mais assustadores. Mas eu já cá estou desde 1986, quando ainda havia atentados do IRA [Exército Republicano Irlandês], e aprendi com isso", concluiu.
LUSA