“Eu acho que é responsabilidade de todos, incluindo de mim próprio, que a grande área política do centro-esquerda e dos milhões de portugueses que nela se reconhecem, esteja unida na próxima eleição presidencial. Foi, infelizmente, uma coisa que não sucedeu nem em 2006, nem em 2011, nem em 2016 e mesmo em 2021”, afirmou Augusto Santos Silva, numa entrevista ao canal televisivo CNN Portugal divulgada esta sexta-feira à noite.
Questionado se irá ajudar a que isso aconteça, o presidente da Assembleia da República respondeu “claro”, mas rejeitou adiantar se pretende candidatar-se às eleições presidenciais, reiterando apenas que não descarta, à partida, qualquer cenário.
“O que eu digo, em 2022, é que não sei o que vai ser o meu futuro. O meu presente sei: é ser presidente da Assembleia da República. (…) Quanto a eleições presidenciais, seria ridículo estar a discutir em 2022 algo que só vai suceder em 2026”, defendeu.
Sobre as suas relações com o Chega, Augusto Santos Silva referiu que, até ao momento, nunca tirou a palavra a ninguém, sendo que, nos dois casos em que lhe pareceu que se estava a desenvolver “um discurso ofensivo em relação a uma comunidade étnica ou em relação aos estrangeiros que vivem” em Portugal, decidiu intervir, “tornando claro que essa não era a posição do parlamento português”.
“Uma das características requeridas por esta cadeira [de presidente da Assembleia da República] é a frieza, é preciso não se deixar levar pelo primeiro impulso, é preciso ter calma, ter paciência, ter moderação, ter distanciamento”, sublinhou.
Questionado sobre o facto de o PSD se ter abstido quanto à admissibilidade “moção de censura” apresentada pelo Chega a Santos Silva, o presidente do parlamento respondeu: “A maneira como os partidos políticos se relacionam entre si é uma coisa que compete a esses partidos políticos justificar ou explicar”.
“Eu tenho uma Constituição e um Regimento, que tenho de cumprir”, sublinhou.
Nesta entrevista, conduzida pela jornalista Anabela Neves, e em que o presidente do parlamento percorreu vários lugares emblemáticos da Assembleia da República, Santos Silva abordou temas como os seus gostos musicais, dotes culinários e o seu núcleo familiar, tendo sido questionado se, à semelhança dos casos polémicos que têm sido divulgados no Governo, nunca teve problemas de incompatibilidades envolvendo familiares.
“Não sei, com o nível de loucura – se me permitem a expressão, que não é insultuosa para ninguém –, que estamos perto de atingir, não sei se teria”, respondeu o presidente do parlamento.
Santos Silva ressalvou, contudo, que “há coisas básicas que se deve fazer”.
“Eu fui ministro da Educação quando os meus filhos andavam na escola básica. Evidentemente que sempre me recusei a tomar qualquer decisão sobre, por exemplo, obras na escola que eles frequentassem”, exemplificou.
Recordando os vários ministérios que tutelou, Santos Silva foi questionado se, quando foi ministro dos Assuntos Parlamentares dos Governos de José Sócrates – entre 2005 e 2011 –, não se apercebeu das situações de que, mais tarde, o ex-primeiro-ministro viria a ser acusado.
Na resposta, Santos Silva começou por afirmar que “há uma avaliação política do primeiro Governo de Sócrates” que, no seu entender, “foi dos mais reformistas que o país teve”.
“Quanto às questões a que quer aludir, elas estão em justiça, deixemos a justiça tratar, porque eu também sou uma das pessoas que gostará de saber o que realmente se passou, mas quero saber na justiça, quero saber no lugar próprio”, frisou.
Interrogado se acredita que alguma coisa se passou naqueles anos, o presidente da Assembleia da República respondeu: “Vamos ver. Depende”.
“As pessoas são inocentes até ao trânsito em julgado e, neste caso, o julgamento ainda nem sequer começou. Portanto vamos aguardar, com serenidade”, disse.