"O secretário de Estado está a dar-nos muita esperança (…) mas precisa de saber quais são as nossas necessidades, que apoio precisamos, tanto para a empresa como para os nossos trabalhadores", explicou uma das afetadas à Agência Lusa.
Maria Fátima Vieira da Silva, explicou que "já no domingo", no dia depois das enxurradas, "vimos funcionários do Consulado (português) de Valência e ficámos muito satisfeitos, por estarem lá, com uma palavra de alento e a dar a segurança de que não estamos sozinhos".
Proprietária de uma distribuidora de gás propano, explicou que agora quer é "avançar, mais do que qualquer outra coisa", retomar as atividades, até como "um reconhecimento a quem perdemos e de amor a Tejerías", salientando que os seus avós, portugueses, escolheram aquela localidade quando chegaram à Venezuela.
No fim de semana passado, "o rio saiu do seu curso, muitas árvores fizeram uma espécie de barragem. A água subiu e arrastou tudo. Há muitas casas afetadas, muitas pessoas faleceram e muitas estão desaparecidas", recordou.
"Em muitas empresas, a água atingiu dois metros de altura. Eram entre as seis e as sete horas da tarde, havia negócios abertos como a padaria e outros, como a loja de ferragens, que estavam fechados porque era um sábado", explicou.
A lusodescendente disse que ficaram sem sinal de telemóvel e lamentou o falecimento de "seguranças de empresas", entre outros casos.
"Encontrei pessoas mortas dentro da minha propriedade (…) Foi uma situação inacreditável, indescritível. Começámos a chorar. Muitos conhecidos e amigos morreram. Não sei como descrever o que nos aconteceu", frisou.
Natural da Ponta do Sol, Madeira, Manuel Pereira Rodrigues emigrou para a Venezuela, para Tejerías em 1965, onde desde 1978 tem uma loja de ferragens com materiais e ferramentas para a indústria e para a construção.
"O meu negócio está ao lado do rio que transbordou. Há aí uma ponte que ficou obstruída por árvores e arbustos. O rio transbordou e derrubou uma parede da minha loja. A água e a lama entraram, atingindo 2,5 metros e arrancaram as quatro portas metálicas (…) perdi tudo", disse.
O negócio "pertencia ao meu pai, infelizmente, perdeu-se uma vida inteira de trabalho" e as ruínas são hoje "a única coisa que me resta".
Emocionado, explicou que uma cunhada teve de sair rapidamente em fuga da enxurrada e "há muitas pessoas afetadas".
"Os bairros de Los Angelinos, El Beisbol, Bolívar, La Hoyada, foram completamente devastados. Há bastantes mortos, mas não sei o número (…) Ainda não os contaram e muitas pessoas ainda estão a ser encontradas", disse.
A Paulo Cafôfo pediu "apoio, tanto moral como financeiro", mas para avançar foi-lhe pedido "um balanço do inventário perdido".
"Estou muito grato pela presença das autoridades portuguesas na Venezuela e pelo apoio que nos estão a dar. Gostaria de agradecer ao secretário de Estado, Paulo Cafôfo, ao embaixador (João Pedro Fins do Lago), ao consulado-geral de Valência e ao consulado honorário de Maracay pelo apoio", frisou.
Por outro lado, Karina Flor de Faria Carvalhais, explicou à Lusa, que é proprietária da Padaria e Pastelaria Nueva Tejerías e que estava a trabalhar "quando começou a chover muito".
"Saí e percebi a situação de chuva forte. O rio está perto, por isso fui buscar o camião e avisei os meus empregados para subirem para o andar de cima. Percebi que o que estava a acontecer era muito perigoso", explicou.
A luso venezuelana explicou que só no dia seguinte verificou que "tudo tinha ficado destruído".
"Testemunhei muitas mortes em frente do negócio. Quando fui fazer a limpeza, testemunhei pessoas que tinham ficado cobertas (de lama) e estavam mortas. Sou também testemunha de que tem havido muita ação por parte do Governo (venezuelano) e de que muitas entidades estão a colaborar", disse.
Sobre os portugueses, explicou que se trata de uma comunidade pequena em que quase todos se conhecem.
"Quero agradecer a estas pessoas (consulado), que sinto que nos vão apoiar (…) pedimos colaboração, pedimos ajuda", concluiu.
Pelo menos 50 pessoas morreram no aluimento de terras, há uma semana, em Tejerias, no centro da Venezuela, segundo as autoridades locais que nunca indicam o número total de desaparecidos. Entre a meia centena de mortos estão confirmados três portugueses.
A cidade, localizada a cerca de 70 quilómetros de Caracas, ainda está sob o controlo de mais de 3.200 funcionários, incluindo centenas de militares, enquanto toneladas de ajuda humanitária estão a chegar para ajudar os sobreviventes.
As chuvas registadas nas últimas três semanas na Venezuela causaram aluimentos de terra e inundações em metade do país, onde milhares de pessoas perderam parcial ou totalmente as casas.